Resumo

Neste estudo, a história das atividades físicas sistemáticas é investigada em meio aos escritos do médico, farmacêutico e eugenista, Renato Kehl. Com o intuito de interpretar a relação entre Eugenia e educação física nos vestígios deixados por esse autor, debrucei-me sobre seus livros, artigos de jornais, revistas, publicações em congressos, além de cartas e postais que datam de 1917 a 1929. Fundamentado nas concepções historiográficas da História Cultural, procurei mostrar que o projeto eugênico de Kehl recebe o auxílio dos exercícios físicos sistemáticos para disseminar noções eugênicas. Procurando “pinçar” das obras deste eugenista os fragmentos que se referem à educação física, construí um mosaico, cujo sentido aponta para a perfeição física. A presença dos corpos mal acabados, atrelados à inatividade, serve para referenciar o belo e o perfeito. Gordas, sedentárias, alcoólatras, sifilíticos e tarados não eram vistos em poucos trajes, exercitando-se ao ar livre; entretanto, seus corpos são fundamentais para dar devida centralidade ao “homem puro-sangue” e atribuir às mulheres o imperativo da beleza. Ao lado dos concursos de miss, da moda em poucos panos e da exposição de belos corpos na praia, a educação física evidencia membros bem torneados, músculos trabalhados, graça, beleza, força e robustez; atribui ao corpo eleito por Kehl valores como disciplina e saúde, concorrendo, assim, para a educação ‘estética’ do povo. Evidenciando a perfeição, os exercícios físicos ensinam quais os “verdadeiros” atributos da formosura, ensinando jovens e adultos a escolherem devidamente bons maridos e boas esposas. Em meio ao processo de educação da sensibilidade para a beleza eugênica, a educação física, ao lado de outras formas de exposição do belo, vincula-se ao projeto de “Eugenia positiva” arquitetado por Renato Kehl.

Acessar Arquivo