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As origens do esporte remontam um tipo singular de sociedade, na qual a juventude masculina era preparada para ocupar papéis de liderança mundo afora. Os colonizadores de então não precisaram mais do que algumas décadas para deixar marcas no esporte amador (aquele que é feito por amor) que constituem o imaginário esportivo até os dias atuais.

Essa prática aristocrática expandiu-se de forma global como valor cultural de um grupo minoritário, porém poderoso, da sociedade europeia. Atendendo aos interesses desse grupo, que por razões óbvias não desejava repartir o poder, foram criadas as instituições e as regras que determinariam os rumos do esporte até o presente.

No entendimento do criador do Movimento Olímpico, Pierre de Coubertin, o COI e seus derivados Comitês Olímpicos Nacionais deveriam ser uma organização não ideológica, organizada em torno de uma elite independente de correntes políticas e de governos nacionais. Preocupado em manter a isenção e a autonomia propunha que sua criação fosse apolítica e apartidária. Regidos por um sistema político próprio essa estrutura foi sustentada na força dos comitês olímpicos nacionais, mas principalmente na cooptação e atuação de seus pares. Denominado princípio da representatividade reversa os membros do COI são embaixadores do olimpismo em seus países e não representantes nacionais no Comitê Internacional.

Nas palavras de Coubertin “Nós não somos eleitos... Existe qualquer outra coisa que pudesse irritar mais a opinião pública? O público tem visto de maneira crescente o princípio da eleição se expandir, gradualmente, colocando todas as instituições sob seu domínio... Bem, nós temos muito prazer em tomar a responsabilidade por esta irregularidade e não estamos nem ao menos preocupados com ela.”

É fundamental que esse pensamento seja contextualizado. Em um período tensionado por conflitos armados e marcado pelos regimes totalitários a democracia era vista como uma ameaça à estrutura de um grupo ainda pequeno e frágil. Daí a máxima que muitos insistem em afirmar em pleno século XXI que esporte e política não se misturam.

Política é a arte ou a ciência de governar. Ou seja, todo e qualquer grupo social para se manter organizado e atuante precisa desempenhar a política. Se o ser humano é, pelo seu próprio ser, um animal social “não há melhor critério para definir o que é o político, em sentido estrito, do que entender a ação política como a capacidade de participar”, como diria Aristóteles.

Isso quer dizer que se obrigatoriamente nas instituições esportivas e olímpicas é necessário ter alternância de poder entre os mandatários, certamente haverá a necessidade de se praticar política. A questão que se coloca, portanto, é a forma como esse exercício se dá.

No presente, diferentemente do passado, a sociedade exige transparência, mesmo de instituições que se declaram independentes de governos nacionais e autônomas em relação aos sistemas estabelecidos. Por isso as próximas eleições do Comitê Olímpico Brasileiro são acompanhadas com tanta atenção. Será o primeiro pleito após anos de um estilo de governança escandalosa que resultou na destituição de seu presidente. Das 4 chapas inscritas a princípio, agora restam 3.

Se todo ser humano é um animal político é fundamental que se aprenda a participar da prática da política. Políticos não são aqueles que procuram conquistar e exercer o poder, mas todos os envolvidos com a instituição da qual participam.