Resumo
O uso agudo de técnicas corporais como caminho possível para aquisição de beleza, força física e saúde, delineados pelo gosto estético, conceitual e posicional do fisiculturismo, tem sido o eixo de vida para muitas pessoas. A percepção do enredamento dessas singularidades motivou-me torná-las a problemática central desta tese. Mulheres fisiculturistas estampam, em si mesmas, silhuetas, milimetricamente esculpidas por exercícios extenuantes, adornadas por indumentárias e maquiagens convencionais e, esquadrinhadas pelos padrões da moda vigente. Busquei apreender um momento de visibilidade dessas estratégias, que constituem a prática em questão, sugerindo-a como possibilidade de completude às aspirações das participantes, por elas cooptadas. Uma breve síntese histórica é tecida, desde um olhar sobre os gestuais livres até as pedagogias do corpo reguladas pela disciplina. O desejo de exposição dos corpos hiperbólicos no palco, em espetáculos competitivos, enuncia os significados desses acontecimentos na vida das fisiculturistas. As múltiplas economias de investimento na indústria para a estética do corpo reforçam a emersão social de tal ideário no presente. As entrevistas realizadas permitiram suscitar particularidades das histórias de vida das bodybuilders, acompanhando a observação etnográfica e possibilitando registros detalhados das academias de musculação, em sua ambiência espacial e, rituais endógenos coletivos e individuais, incluindo venda e uso de produtos e suplementos farmacológicos e alimentícios voltados à modelagem estética. Entre tantas tecnologias políticas contemporâneas a investirem no corpo, o fisiculturismo demarca mais um itinerário traçado para o pertencimento a grupos demarcados: o fisiculturista exige de si, um outro. O corpo hiperbólico configura-se como excesso de si, como próprio duplo, transfigurando-se como desdobramento induzido artificialmente.