Resumo

É quase consensual entre a população brasileira em geral que o futebol e as formas de torcer são vividas quase que exclusivamentes no estádio de futebol e nos 90 minutos que cercam o jogo. No máximo, nos espaços e no tempo próximos daquilo que foi posto. Ou, então, nas sedes de torcidas organizadas, espaços esses que são formalmente e previamente definidos. Mas, ao pesquisar a Torcida Jovem do Botafogo-PB, eu percebo uma ampliação da perspectiva e da vivência torcedora, em que o torcer se enverada para outros locais e para momentos completamente distintos do jogo em si, do estádio, do dia do jogo e até mesmo da sede oficial. Nessa perspectiva, eu pretendo discutir as dinâmicas torcedoras que se passam na chamada Praça Nova, no bairro pessoense de Funcionários 2, em João Pessoa, em que um bonde (espécie de subdivisão da torcida) da TJB se reúne cotidianamente para definir suas ações, suas estratégias, suas múltiplas formas de agir e de torcer. Um espaço urbano localizado a mais de três quilômetros de distância do Estádio Almeidão (onde o Botafogo-PB joga) e que mesmo assim é transformado em território, em lugar antropológico. É o lugar do encontro, da troca de experiências, das lembranças de conflitos e de caravanas vividas. Não se tratava de uma sede, visto que é em área pública e aberta, mas vira referência afetiva daqueles que fazem parte do bonde. Quero entender como essa área pública é ressignificada pelos torcedores do Bonde dos Faixas (BDF) e como ela vira ambiente de todas as dinâmicas torcedoras pré-jogo. Reuniões, preparações para jogos, treinos de preparação para o conflito, reflexões, definições de “pista”, entre outros. Quero entender a potência que a praça tem aos torcedores do bonde e como ela é ressignificada, já que não foi necessariamente construída para esse fim. Meu objetivo é demonstrar como espaços públicos da cidade podem ser repensados pelos citadinos e como eles podem se transformar em locais afetivos por torcedores, mesmo tão longe do local do jogo em si.

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