Resumo

Introdução: Tanto o nível de atividade física quanto a prática regular de exercícios físicos durante a gestação são fatores que podem influenciar na evolução da gestação e nos desfechos materno-fetais. Desde a década de 1980, a prática regular de exercício físico durante a gestação e no período pós-parto vem sendo cada vez mais estudada e estimulada por se associar a benefícios para saúde física e psicológica da gestante e por não influenciar adversamente nos desfechos neonatais. Um melhor entendimento dos níveis habituais de atividade física entre gestante e puérperas, os fatores e repercussões relacionados à sua prática ajudariam num melhor delineamento de políticas públicas voltadas para o seu incentivo. Objetivo: Avaliar a prática de atividade física, suas características, fatores relacionados e as repercussões durante a gestação e após o parto. Métodos: Para esta tese de doutorado, foram realizadas diferentes abordagens sobre a prática de atividade física na gestação e puerpério. Primeiramente, foi realizada uma revisão sistemática da literatura, com ensaios clínicos randomizados, publicados entre julho de 2010 e julho de 2012, sobre a prática de exercício na gestação e seus efeitos na saúde materno-fetal, bem como as recomendações existentes a respeito dessa prática. O segundo estudo refere-se a uma revisão sistemática e meta-análise de ensaios clínicos randomizados publicados até Outubro de 2012, que avaliaram a efetividade do exercício físico, combinado ou não com dieta, na perda de peso de mulheres após o parto. Os dois estudos originais apresentados em seguida compartilham a mesma metodologia de estudo do tipo corte transversal, no entanto foram realizados em duas populações distintas. O primeiro na cidade de Campinas - SP, Brasil, onde foi realizado um estudo de base populacional que incluiu 1.279 mulheres em três maternidades, e o segundo na cidade de Kingston - ON, Canadá, onde foram incluídas de 197 mulheres. Os critérios de inclusão para ambos foram: mulheres no puerpério imediato, internadas em maternidades selecionadas, recém-nascido vivo, e gestação única. As participantes foram entrevistadas e responderam às questões sobre dados sociodemográficos, sobre prática de exercícios e atividades físicas cotidianas no período gestacional. Dados da gestação, do parto e do recém-nascido foram extraídos dos prontuários e do cartão de pré-natal. Considerou-se significativo um p-valor <0,05. Resultados: 1) A maioria dos ensaios clínicos recentes confirma a efetividade do exercício como fator de proteção em diversos desfechos maternos e perinatais, como ganho de peso, diabetes gestacional, idade gestacional ao nascimento, peso do recém-nascido, dor lombar, incontinência urinária, depressão pós-parto e qualidade de vida; suportando as atuais recomendações para a prática de exercícios em intensidade moderada por cinco vezes na semana em sessões de 30 minutos ou mais por gestantes que não apresentem contraindicações. 2) Ensaios clínicos randomizados cuja intervenção no estilo de vida incluiu programas de exercício, combinados ou não com dieta, mostraram um efeito significativo na perda de peso por mulheres no pós-parto. Sendo mais efetivos programas que utilizaram frequencímetro cardíaco ou pedômetro, aqueles que combinados à intervenção dietética intensiva. 3) Dados do estudo de corte-transversal mostraram que em Campinas ¿ SP, a prevalência de exercício físico na gestação foi de 20,1%, sendo que metade das mulheres interrompeu sua prática devido à gestação. No início (13,6%) e no final gestação (13,4%) as mulheres tenderam a diminuir ainda mais a prática de exercícios, sendo a maior prevalência observada no segundo trimestre gestacional (17,8%). Menos da metade recebeu algum tipo de orientação sobre exercício físico do médico durante as consultas de pré-natal (47,5%). A caminhada foi o exercício mais frequente, seguido por hidroginástica. Os fatores associados à prática do exercício na gestação foram: maior escolaridade, primiparidade, prática de exercício antes da gestação, e orientação sobre exercício no pré-natal. A prática do exercício físico não se relacionou com os resultados maternos e perinatais. 4) Em Kingston - CA, a prevalência de exercício entre gestantes foi alta em todos os três trimestres da gestação, 75,4%, 69,3% e 60,3%, respectivamente. No entanto observou-se menor prevalecia levando-se em conta o nível recomendado de 150 minutos de exercício por semana, com prevalência máxima de 27,1% no primeiro trimestre, 12,7% no segundo e 7,1% no terceiro. A caminhada foi o tipo mais frequente. O IMC pré-gestacional foi único fator associado à prática de exercício nos três trimestres, quanto maior o IMC menor a chance de praticar exercício. Conclusões: O exercício físico é uma prática associada a benefícios para a saúde da mulher durante a gravidez e significativamente associada a maior perda de peso no pós-parto. No entanto a gestação é uma condição que leva as mulheres a diminuírem o nível de atividade física, e poucas alcançam o nível recomendado de exercício na gestação. A prática de exercícios físicos durante a gestação deve ser mais conhecida e estimulada pelos profissionais da saúde, principalmente para mulheres previamente sedentárias e as com sobrepeso ou obesidade. 

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