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Tendências da Educação Física


 Para falarmos de Educação Física brasileira se faz necessário a abordagem e uma síntese das tendências da mesma, desta forma, encontraremos um melhor entendimento.


 A educação Física apresenta-se até a ano de 1930, como Higienista, tendo como ênfase, em primeiro plano, a busca da construção de uma sociedade de homens e mulheres sadios através da prática de atividades físicas, ou seja, " Resolver o problema de saúde pública pela Educação."(GHIRALDELLI, Jr .,1994, p.17). Neste período é que se apresenta o lema : Mente Sã e Corpo São.


 Nesta concepção havia o objetivo de manipulação de hábitos dos indivíduos, visando a manipulação de um padrão de vida com qualidade satisfatória, havendo na verdade o interesse de domesticação da classe operária onde
"Particularmente durante a ditadura de Vargas, o médico e a Ginástica foram colocados como magos, e a Educação Física do período, se constituiu em importante instrumento de divulgação da ideologia estado-novista, através dos ideais eugênicos e higiênicos de regeneração da raça, de defesa da pátria e da indústria que lentamente se instala no país." (SOARES, 1990, p.33)


 A Educação Física Militarista, que se compreende no período de 1930 até 1945, estabelecia como objetivo a eliminação dos fracos através da produção do cidadão, premiando os fortes. A sociedade civil queria incorporar a Educação Física militar, impondo disciplina ao cidadão brasileiro, para que assim obedecessem regras, mantivesse ordem e espírito hierárquico (GHIRALDELLI, Jr.,1994).


 A próxima tendência a surgir é a Pedagogicista, que teve seu período compreendido entre 1945 a 1964, seu principal objetivo era manter o indivíduo como o centro das atenções, utilizando a Educação Física como caráter reprodutivista dos modelos sociais existentes, preparando o aluno para o altruísmo, o culto as riquezas, etc (GHIRALDELLI, Jr., 1994). Em paralelo a esta concepção, houve o crescimento da rede de ensino público nos anos 50 e 60, havendo, então, uma priorizado da escola, do ato educativo, sendo a Educação Física vista como algo útil socialmente, "devendo ser respeitada acima das lutas políticas dos interesses diversos dos grupos e classes" (GHIRALDELLI, Jr., 1994, p.19), dando assim um caráter não somente reprodutivista mais acrítico, já que nela há a preocupação também com a juventude e a freqüência nas escolas, sendo a Educação Física um meio de viabilização dos alunos.


 A próxima tendência a surgir e a Competitivista, que teve seu período após 1964, graças a ditadura, está tendência teve funcionava como aparelho ideológico do Estado (AIE), onde os jovens estudantes praticavam esporte para esquecer os problemas políticos sociais, evitando assim os levantes estudantis, havendo até bolsa de estudos para os atletas que competissem. Esta tendência teve seu auge nas décadas de 60 e 70, época de crescente tecnização e do "milagre econômico",(1968/1974). "há o culto ao atleta-herói e a redução de todo o corpo social ao desporto e à performance" (VARGAS, 1995,p.13). Isso caracteriza a Educação Física como algo excludente já que legitima um processo de seleção, onde o esporte atuará "elevando uns poucos participantes e obrigando muitos a permanecerem na sombra, esquecidos, alimentados pela ilusória possibilidade de ascender àquele resultado tão desejado". (FERREIRA, 1982, p.65).


 A última tendência a citar e a Educação Física popular, onde não podemos nos respaldar em uma abundante produção teórica, já que seu acesso se torna restrito


 "Boa parte dos documentos(jornais, revistas, etc.) do Movimento Operário Popular, que poderia conter uma teorização ou pelo menos um relato sobre as práticas da Educação Física autônoma dos trabalhadores, não escapou aos olhos e garras incineradoras das classes dominantes." (GHIRALDELLI JR, 1994, p.21).


 É importante enfatizar que a Educação Física Popular e a atividade física praticada pelo povo, são coisas totalmente diferentes, sendo a primeira uma "concepção de Educação Física onde emerge da prática social dos trabalhadores e em especial da s iniciativas ligadas aos grupos de vanguarda do Movimento Operário Popular" (GHIRALDELLI Jr., 1994p.33).


 Esta concepção "Nega todas as anteriores e se volta para as classes populares desvinculando-se das práticas elitistas "( VARGAS, 1990,p.13), o que mostra mais uma vez a Educação Física vinculada a uma ideologia. A Educação Física foi compreendida se voltando para a organização das classes trabalhadoras que condenavam a competição, pregando o esporte por lazer.


 É importante ressaltar que essa tendência tinha um caráter qualitativo, já que a classe trabalhadora era desinformada e sem tempo, por isso prega a conscientização, sem enfatizar o aspecto quantitativo; havia a preocupação de conscientizar as pessoas do "por que" estarem fazendo atividades, das condições que os levaram aquilo, para direcionar os seus pensamentos, levando-as questionarem/refletiram sobre as coisas, não simplesmente aceitando-as.


 Objetivo da Educação Física


 Apresentaremos, de uma forma resumida os conteúdos da Educação Física para o ensino Fundamental.
Âmbito Objetivo
Sócio Cultural A valorização dos aspectos sócios-culturais marcantes de cada região, que estimulam o interesse pelas práticas de atividades físicas, bem como à integração social


 Afetivo A convivência do grupo com um único professor contribui para a construção de laços estreitos entre os atores do processo ensino-aprendizagem. Facilitando o processo de valorização da auto-estima, do respeito mútuo, do respeito às limitações individuais e coletivas e da superação dessas limitações; e do controle emocional.


 Cognitivo Criar circunstâncias que estimulem a capacidade do aluno em tomar decisões e fazer escolhas a partir de reflexões críticas, tornando-o mais autônomo.


 Psicomotor Possibilitar o auto-conhecimento através da atividades psicomotoras que subsidiarão o domínio corporal, permitindo assim maior utilização das linguagens corporais para expressar sentimentos, emoções e estilos de forma espontânea ou intencional


 Conteúdos da Educação Física


 Os conteúdos deverão ser abordados e desenvolvidos de acordo com a proposta pedagógica de cada escola e especificidade de cada região e grupo escolar. Existe uma tendência comum e natural do professor em reprimir os alunos, quando estes expressam seus sentimentos, desejos e ansiedades, através dos movimentos corporais. Eis os conteúdos trabalhados no ensino fundamental; Conhecimentos gerais sobre o corpo, Esporte ou Desporto, Jogos ou brincadeiras, Lutas, Ginástica, Atividades rítmicas e expressivas. ( Parâmetro Curriculares Nacionais, MEC - 1998).

 Relação entre Teoria e Prática


 Em todas as áreas de conhecimento existe problemas na relação entre teorias e prática. Este problema ocorre devido ao fato de cada área apresentar as suas diferenças no fator social ( Candau, 1994).


 Não podemos construir uma proposta curricular sem ao menos levar em conta todos os aspectos, políticos, econômicos , sociais e culturais, que envolvem as mais variadas gerações. Isto implica fatores internos, que envolvem condições de trabalho na área relacionada, e fatores externos, que são de âmbito político educacional.


 Primeiramente, a disciplina Educação Física surgiu associado a criação de instituições escolares. Estas tinham como objetivo, isolar cada vez mais o indivíduo da formação intelectual, mental e física e adestrá-las a um padrão submisso e de automatização (Ariés, 1981).
Atualmente a questão do corpo sempre esteve presente na Educação Física, ocorrendo a mudança de pensamento sobre este corpo e como o mesmo pode ser utilizado como um "todo", mente e ação. Tendo em vista uma preocupação com a formação intelectual, ou seja, um homem que possa pensar por si próprio numa nova ordem política, social e econômica ( SOARES, 1994). A educação Física, como disciplina curricular preocupa-se com a prática social com tratos pedagógicos e ideológicos.


 No brasil, a Educação Física, encontrou respaldo geral na reformas educacionais como disciplina curricular, que pertence ao meio escolar e que trata das questões pedagógicas.


 Na nova Lei de Diretrizes e Bases, de n( 9394 de 20/12/96, determina a esta disciplina que seja integrada no plano político pedagógico de cada escola, reafirmando sua obrigatoriedade na grade curricular do ensino fundamental.
Atualmente, as instituições escolares vêm adotando como modelo de orientação para professores os Parâmetro Curriculares Nacionais, na qual trata da Educação Física


 "(...) rompe com o tratamento tradicional dos conteúdos que favorece os alunos que já tem aptidões, adotando como eixo estrutural da ação pedagógica o princípio da inclusão, apontando para uma perspectiva metodológica de ensino e aprendizagem que busca o desenvolvimento da autonomia, da cooperação, da participação social e da afirmaç`1ao de valores e princípios democráticos. Neste sentido, busca garantir a todos a possibilidade de usufruir de jogos esportes, danças, lutas e ginástica em benefício do exercício crítico de cidadania ( PCN, introdução, 5( a 8(, 1998,p.62)"


 A realidade atual demonstra que algumas escolas públicas não oferecem a esta disciplina, seja pela falta de professores, ou até mesmo pelo desconhecimento do papel da escola, do professor e dos conteúdos abordados e objetivos educacionais a serem alcançados por esta área. Atualmente, três aspectos são fundamentais para discussão e reflexão da prática pedagógica do professor do ensino fundamental, na qual se refere à prática de atividades físicas (PCN, introdução, 5( a 8(, 1998):


 1) Princípio da Inclusão - afirma que a escolha de conteúdos, objetivos, metodologia e critérios para a avaliação, deverão priorizar a inclusão do indivíduo/ aluno na cultura corporal do movimento, rompendo com a tradição historicamente construída, na qual valorizava-se a seletividade por meio de aptidões físicas e seu desempenho.


 2) Princípio da Diversidade- Priorizar a ampliação das relações corporais com o cotidiano do aluno, contribuindo com o desenvolvimento sócio-cultural, afetivo, cognitivo e psicomotor desse educando.


 3) Categoria de conteúdos que se apresentam segundo as categorias:
Conceptual e Procedimental - ligadas ao fazer, permitem a auto-copreensão corporal;
Atitudinal - abre espaço real de expressão dos sentimentos e valores, por meio da vivência de atividades físicas.


 Antes de determinar qual seja o conteúdo abordado, objetivo a serem atingidos e critérios de avaliação do processo de ensino-aprendizagem a serem aplicados, considera-se essencial determinar para quem e como se efetivarão tais procedimentos. Deve-se considera o aluno como um ser integral que se apropria do processo de construção de conhecimentos corporais, para utilização autônoma do seu potencial. Apesar da tendência natural do ser à automatização dos movimentos corporais, sejam eles execuções simples ou mais complexas, esta não deverá ser meta principal do professor. Deverá ser encarada como um fator integrante e facilitado do processo de construção de conhecimento. Quanto mais estímulos sofrer, quanto mais oportunidade o educando tiver de experimentar vivências corporais, mais automática será sua execução. Entretanto o papel do professor se dá exatamente na criação de circunstâncias cuja execução automática do movimento seja insuficiente, promovendo desafios que permitam a superação de limitações individuais e coletivas do educando, bem como a integração social como fator altamente significativo e interesse pela atividade.


 A maioria dos professores de Educação Física, não tem ainda, o hábito de planejamento, utilizando-se muito mais sua própria experiência do que da pesquisa como meio de atualização constante. Não possuem o hábito de pesquisar e não trabalham numa perspectiva de construção e reconstrução do conhecimento. Não possuem clareza da orientação teórica que permeia a sua prática e o entendimento de teoria é o que esta nos livros e a prática é a aplicação desta teoria. Portanto, não tem compreensão de relação através da relação dialética entre teoria e a prática


Obs. As autoras são licenciadas em educação física/ UFRJ


 Referência Bibliográfica


 Ariés, Philippe, Trad. Dora Flaksman, História social da criança e da família, 2( Ed.LTC - Livros Técnicos e Científicos Editora S.A, Rio de Janeiro, 1981.
 Brasil. Lei de Diretrizes e Bases, n ( 9394 de 20/12/96.
 Candau, Vera Maria (orgs.) Rumo a nova didática. Petrópolis: Vozes, 1994.
 Coletivo de autores, Metodologia do ensino de educação física, São Paulo: Cortez, 1993.
 Ghiraldelli, Jr. P. Educação física progressista; a pedagogia crítico-social dos conteúdos e a educação física brasileira. São Paulo. Ed.loyola, 1994.
 MEC. Parâmetros curriculares nacionais: Educação física (5 a 8) série. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC - 1998.
 MEC. Parâmetros curriculares nacionais: Educação física (5 a 8 série). Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC - 1997.
 Vargas, A L S. Desporto: fenômeno social. Rio de Janeiro: Sprint, 1995.