A Produção de Conhecimento em Educação Física e Saúde no Brasil
Por C. F. B. Oliveira (Autor), R. C. de Oliveira (Autor).
Resumo
Com a crise epistemológica ocorrida na década de 1980, a produção científica na área da Educação Física (EF) ampliou o seu escopo em direção às ciências humanas, considerando as dimensões cultural, socioeconômica e política. Concomitante, com a Resolução 218/97, a profissão é reconhecida como um dos pilares para a atenção integral à saúde. Entretanto, o entendimento majoritário sobre saúde no terreno da EF gravita em torno do aumento do nível de atividade física da população. Em que pese tal relevância, existem outros entendimentos da relação EF x saúde, que, refletidos na produção acadêmica, pode permitir vislumbrar outros horizontes dessa relação. Assim, o objetivo do estudo foi compreender como tem se dado a produção de conhecimento em EF e saúde no Brasil. Foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica na base de dados LILACS. O descritor utilizado foi "educação física and saúde". Utilizamos como critério de seleção artigos publicados a partir de 1997 e que tivessem o descritor "saúde" no campo palavras chave, desconsiderando-se trabalhos de revisão bibliográfica e resenhas. Obtivemos um total de 72 artigos. Destes, 40 se alinharam na perspectiva das ciências humanas e 32 das ciências naturais. Quanto à abordagem metodológica, 36 utilizaram predominantemente o método qualitativo, e 36 o quantitativo. Em relação à concepção de saúde, obtivemos 2 categorias: conceito de saúde restrito e conceito de saúde ampliado. Na primeira (47 artigos), a saúde figurou como sinônimo de ausência de doenças ou redução de riscos epidemiológicos. Na segunda categoria (25 artigos), os trabalhos elucidaram os determinantes socioculturais como condicionantes da saúde, sendo enfatizado o empoderamento das pessoas. Em relação às temáticas, foram encontradas 3 categorias: 1 - Saúde de Grupos Populacionais (55 artigos); 2 - Profissão (36 artigos); e, 3 - Doenças, Agravos e Determinantes (32 artigos). A 1ª categoria tematizou grupos de pessoas que compartilhavam características comuns, generalizando as práticas de cuidado. A 2ª categoria concentrou a discussão na formação e na prática profissional em EF. Esta categoria conteve a maior parte dos trabalhos em ciências humanas, com método qualitativo e conceito ampliado de saúde. Na 3ª categoria, os artigos retrataram as causas e os tratamentos das doenças. Neste grupo observamos a predominância de estudos calcados nas ciências naturais, de metodologia quantitativa e com conceito restrito de saúde. Concluiu-se assim que há diversificação nas abordagens de estudo, destacando a aproximação da EF com as áreas da saúde pública e coletiva, seja sob o aporte teórico das ciências naturais ou humanas. A presença cada vez mais frequente do conceito ampliado nas publicações pode refletir a desmistificação da relação de causalidade entre exercício físico e saúde, havendo o entendimento de que a EF não se direciona apenas à prevenção e tratamento de doenças, mas sim contribuir para uma atenção integral à saúde da população.