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Este trabalho é fruto da Monografia apresentada ao Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como requisito para obtenção do grau de licenciatura Plena em Educação Física, sob a orientação do Prof. Ms. Evaldo Chauvet Bechara, hoje doutor. Também houve a contribuição da profª Ms. Rosa Malena de Araújo Carvalho que nos cedeu uma entrevista enriquecedora sobre o curso Normal Superior e sobre suas experiências na área. O título apresentado foi: "Aprendizagem Motora no Estágio da Educação Infantil".

Inicialmente fizemos uma revisão da literatura sobre o assunto para em seguida pesquisarmos "As Leis que Regem os Profissionais na Educação Infantil", já que tentamos entender porque encontramos poucos professores de Educação Física atuando neste segmento. Para que haja um melhor entendimento foram consultadas a Constituição da República Federal do Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, os Parâmetros Curriculares Nacionais - Educação Física e outros decretos. Em seguida, contextualizamos as definições e os conceitos básicos da Aprendizagem Motora, conhecimentos estes de fundamental importância para os profissionais que vão atuar com estímulos motores na Educação Infantil. Por último, discutirmos "A Qualificação do Profissional que atua com a Atividade Física na Educação Infantil", sem rotular as pessoas, tentando apenas entender como esses profissionais estão sendo preparados, por meio de análise dos currículos e de aplicação de questionários sobre conhecimentos sobre a Educação Infantil, Aprendizagem Motora e sobre o interesse destes profissionais neste segmento da educação.

Acreditamos que a discussão sobre a qualificação do profissional que atua com atividades físicas, recreação ou Educação Física no estágio da Educação Infantil é de suma importância, pois, geralmente, nos deparamos com professores formados no curso normal (ensino médio) ministrando essas atividades. Como estes não possuem em seus currículos a disciplina Aprendizagem Motora, psicomotricidade ou outras que norteiam e embasam a adequação dos exercícios e brincadeiras, assim como a aplicações de estímulos necessários a cada faixa etária, talvez não estejam preparados para atuar nesta fase. Por outro lado, a maioria dos professores de Educação Física não possui grande interesse por este segmento da educação. Além dos profissionais citados, existe também o graduando do curso Normal Superior que podem estar atuando nesta área, já que sua formação os prepara para trabalhar, especificamente, na Educação Infantil e nos primeiros anos do Ensino Fundamental.

Profissionais qualificados e interessados nesta fase são essenciais já que, principalmente neste estágio, os estímulos devem respeitar os limites de cada criança, assim como devem ser compatíveis com as potencialidades e a maturidade biológica. Segundo a LDB, a Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica e portanto deve visar o "...desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade" (Capítulo II, Seção II, Art.29).

Justificamos nosso interesse por este assunto pois observamos que na prática encontramos muitas crianças na idade escolar, maiores de 7 anos, que algumas vezes não possuem o desenvolvimento motor correspondente a sua faixa etária, podendo ter como causa a falta de estímulos adequados na Educação Infantil e, por conseqüência, uma difícil reestruturação nos níveis cognitivo, social, afetivo e principalmente motor, que é a nossa área de interesse. Com isso, perguntamos: será que a formação dos professores interfere na adequação dos estímulos motores aplicados por eles, portanto na qualidade do seu trabalho ?

Determinamos nesta pesquisa que a faixa etária para a Educação Infantil abrange crianças entre 3 a 7 anos. MEINEL estabelece que é nesta fase que a criança aperfeiçoa as formas de movimento e as habilidades motoras, além de adquirir as primeiras combinações de movimento. Na LDB a Educação Infantil deve oferecer atendimento em creches e pré-escolas, na primeira atende até os três anos e na segunda as crianças de quatro até os seis anos.

O estudo seria realizado em estabelecimentos de ensino que oferecessem a Educação Infantil, no município do Rio de Janeiro, que atendessem a faixa etária alvo, por meio de observação e aplicação de questionários estruturados e semi-estruturados. Na escolha das instituições tentamos incluir escolas públicas e particulares, com o número mínimo de 6 e máximo de 10. Além disso, também percebemos a necessidade de aplicar questionários aos graduandos dos cursos de Educação Física e do Normal Superior e aos alunos do curso Normal (ensino médio). Não conseguimos observar as aulas, pois em todos os lugares que visitamos houve a desconfiança de que o pesquisador estaria fiscalizando as escolas, e tornando inviável observarmos as aulas e aplicarmos os questionários para os profissionais que estão atuando com atividades físicas. Com relação aos estudantes do curso de licenciatura em Educação Física, foram aplicados 50 questionários (uma amostra pequena), pois foi difícil convencê-los da importância de sua participação. Destes, 26 eram alunos do 6° período ou de períodos acima. Não foi possível aplicar o questionário no curso Normal Superior do ISERJ (Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro), pois a instituição estava passando por um processo de seleção para compor o quadro discente, que não acontecia há dois anos, o que levou a suspensão das aulas. Contudo, para suprir a ausência deste segmento foi entrevistada a professora Ms. Rosa Malena de Araújo Carvalho, responsável pela disciplina Educação Física e por todas as disciplinas relacionadas ao movimento do corpo, incluindo a disciplina Aprendizagem Motora. A professora tem na sua formação a Licenciatura plena em Educação Física na UFRJ, com mestrado pela Faculdade de Educação da UFF, trabalhando há 15 anos com Educação Física e Educação Infantil.

Conversamos muito e uma das suas conclusões ao longo desses anos de prática, foi à ocorrência de uma melhor evolução motora nas crianças quando os professores de Educação Física trabalham em parceria com os professores regentes de Sala (Normalistas). Quanto ao curso Normal ministrado no ensino médio, foram aplicamos 57 questionários na Escola Normal Carmela Dutra (número baixo, que representa apenas 2 % dos alunos, já que esta instituição possui em média três mil alunos). Neste estabelecimento os futuros professores possuem em seu currículo as disciplinas Educação Física, Didática e Prática Pedagógica correspondentes a Aprendizagem Motora.

Os questionários visaram uma análise qualitativa, por isso foram feitos dois tipos: um para os graduandos de Educação Física da UERJ que tinham a disciplina Aprendizagem Motora e outro para os estudantes do Curso Normal médio e Normal Superior, sendo este adaptado, já que desconhecíamos qual disciplina (ou disciplinas) abordava o desenvolvimento motor das crianças e a adequação dos estímulos a faixa etária; as demais questões constavam em ambos que tratava do interesse de trabalhar com Educação Infantil, se a pessoa se considera capaz de adequar as atividades físicas à faixa etária, quem seria o mais qualificado para este segmento, a importância de deixar a criança com tempo livre para brincar sozinha, se estavam familiarizados com o local de atendimento para este estagio e se possível, exemplificar uma atividade para crianças de 6 anos. Na Faculdade de Educação Física apenas, 25 alunos, metade dos que responderam os questionários se encontram capazes de adequar os seus conhecimentos de Aprendizagem Motora nas suas aulas, entretanto 14 alunos são capazes de adequar a atividade física à faixa etária baseando-se em Aprendizagem Motora. O mais interessante é que a maioria confunde a nova nomenclatura utilizada na escola, como por exemplo: Educação Infantil com Ensino Fundamental e este com primeiro ciclo. Este resultado pode ser o reflexo da falta de uma disciplina que trate especificamente da escola, da LDB e das divisões da educação escolar na graduação. Por mais estranho que pareça, o ponto em comum entre os estudantes de Educação Física e os alunos do ensino médio é o fato deles confundirem a nomenclatura, pois 24 dos 57 acham que a Educação Infantil é oferecida de 1ª a 4ª série, portanto no ensino fundamental.

Entende-se que não podemos generalizar em nenhuma hipótese as instituições ou os profissionais que trabalham com o Ensino Infantil, pois antes de falarmos em qualificação profissional, assunto tão delicado, é necessário fazermos algumas considerações. O que discutimos é como cada instituição oferece esse conteúdo e como o profissional pode melhorar a sua atuação e qualificação através dos conhecimentos sobre o desenvolvimento motor da criança. É importante ressaltarmos que na Educação Infantil encontramos muitos ‘leigos’, isto é, pessoas que não possuem qualificação acadêmica para lidar com as crianças, ocorrendo este fato principalmente nas creches; por isso não basta redigir inúmeras leis e diretrizes educacionais se estas não são cumpridas e fiscalizadas, cabendo ao governo mais dedicação no cumprimento dessas diretrizes e de todas as leis que envolvem a educação, e de nós cidadãos exigirmos isso. Quanto ao papel do professor, além da necessidade de sua formação qualificada e de sua dedicação, devemos pensar também na importância de sua atualização profissional, já que esta depende, em muitos casos, da vontade do mesmo.

Precisamos estimular um maior compromisso dos profissionais e dos responsáveis, pois são eles encarregados por estimular as relações interpessoais e o desenvolvimento integral do aluno, proporcionando também a formação das bases físicas, sociais e afetivas que ajudarão na criação de um caráter crítico e participativo neste futuro adulto.

Com relação aos estímulos motores da "Educação Física" ou de qualquer atividade física orientada neste período do desenvolvimento humano, esta deve oferecer a criança uma grande variedade de estímulos, e acima de tudo, respeitar a fase do desenvolvimento motor em que ela se encontre, não importando muito qual o profissional que atue nesta área, mas sim a sua qualificação, o seu interesse e o seu conhecimento sobre esta fase. Acreditamos que o estudo e a atualização profissional deva ser sempre o melhor caminho a ser seguido. Desta forma esse estudo não deve parar por aqui, já que existem muitos professores atuando neste estágio da educação o que torna difícil um retrato fiel do perfil destes profissionais. Recomendamos que as pesquisas sejam ampliadas, abordando assim um número maior de instituições visitadas. Com relação aos questionários, estes deveriam ser aplicados em um número maior ou se possível em todas as instituições do Município do Rio de Janeiro que oferecem o curso normal médio e em todas as universidades que oferecem o Normal Superior e o curso de Educação Física, para que então nossa pesquisa retrate fidedignamente a realidade da qualificação dos profissionais que vão atuar na da Educação Infantil.

Obs. A autora, prof esp. Patricia Cardoso Rodrigues e posgraduanda na UFF leciona na rede municipal do Rio (RJ).

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