Resumo


 

Integra

Não foi sem surpresa que recebemos essa semana a notícia de que a Rússia, como representação nacional, ficará fora da próxima Copa do Mundo de Futebol e dos Jogos Olímpicos. E dessa vez a desculpa para tanto não foi nenhuma ação relacionada à geopolítica internacional como a invasão do Afeganistão ou a Granada. Ações como essas levaram aos boicotes olímpicos de 1980 e 1984, atestando a proximidade entre a política e o esporte, embora essa relação seja negada quando os interesses atendem a quem não está no poder. Ou seja, nem a Guerra Fria foi tão poderosa como a Wada.

No princípio dos Jogos Olímpicos Modernos a incidência de doping era quase nula. Em 1928, a Federação Internacional de Atletismo (IAAF) tornou-se a primeira Federação Internacional a proibir o uso de doping no esporte, ou seja, já se percebia que era possível se ter vantagem fazendo uso de substâncias ou procedimentos que retiravam da competição a igualdade, um valor olímpico. 

Durante a II Guerra Mundial a anfetamina foi largamente usada para que soldados suportassem a luta. Já os anabolizantes eram aplicados para recuperar os prisioneiros de guerra e sobreviventes de campos de concentração. Seus efeitos não foram esquecidos pela comunidade esportiva que passou a fazer uso com vistas ao rendimento.

A morte de um ciclista escandinavo durante os Jogos Olímpicos de Roma, em 1960, disparou o alarme do Movimento Olímpico, levando a União Internacional e Ciclismo (UCI) e a FIFA iniciaram os seus programas de controle. E no nos Jogos Olímpicos do México, teve início ao controle dos atletas. 

A década de 1970 e 1980 foram marcadas pelo uso e controle de anabólicos esteroides. Em 1987 a Comissão Médica do COI modificou a lista de substâncias proibidas, incluindo betabloqueadores e diuréticos, bem como a transfusão de sangue e a manipulação física da urina. Depois vieram o EPO e o HGH. Diante disso foram adotados os controles fora de competição.

A partir dos Jogos Olímpicos de Atenas o controle passou a ser realizado pela Agência Mundial Antidoping (Wada), criada em 1999. Composta por entes públicos, privados e membros do Movimento Olímpico a Wada iniciou suas ações durante os Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, e produziu o primeiro Código Mundial Antidoping. 

Em 2002 publicou a legislação com o código mundial antidoping. Por força da lei, muitos países não podem estar legalmente vinculados a um documento não governamental. Em razão disso, foi criada a Declaração de Copenhagem sobre anti-dopagem no esporte, um documento político que sinaliza a importância do reconhecimento e implementação formal do código o que levou os países signatários do documento a se ajustarem a essa determinação para poderem competir e realizar competições internacionais em seus territórios.

Se o sistema foi criado para proteger os atletas e o esporte parece que o remédio se tornou veneno. 

Afinal, nenhum atleta se dopa sozinho ou por conta própria, entretanto é o único punido quando o teste resulta positivo. Na prática, todo atleta é culpado até que se mostre inocente, uma vez que a regra diz que todos devem saber o que entra em seus corpos.

Tentando combater a competição desleal o controle tornou-se um poder paralelo dentro do esporte capaz, inclusive de deixar a potente Rússia fora dos maiores eventos esportivos do planeta, mas outros países que apresentam doping sistemático continuam reinando. Instalada no Canadá ela pode ditar as normas de quem pode ou não participar do esporte “limpo”. Resta saber quem qualifica a limpeza desse sistema.