Resumo
Este estudo teve como objetivo geral verificar os motivos que levaram jovens esportistas, caracterizados como talentos esportivos, a abandonar precocemente o processo de formação esportiva visando o esporte profissional. Este foi um estudo qualitativo, de campo, que utilizou-se da análise de conteúdo como método e teve como técnica de coleta de dados a entrevista semiestruturada. Foram entrevistados oito sujeitos, que praticaram modalidades olímpicas individuais (tênis, ginástica rítmica, natação, judô, atletismo) e coletivas (basquetebol, voleibol, handebol). Foi possível observar a existência de uma diversidade de motivos que culminaram com o abandono, e, que entre estes, a incompatibilidade entre o esporte e a continuidade dos estudos foi um dos fatores recorrente apontados pelos sujeitos entrevistados. Porém foi constatado que este fator, além de estar sempre associado a aspectos como a falta de estrutura física, de suporte técnico e apoio familiar para a continuidade na prática, também reflete a desvinculação entre o ensino formal e a formação esportiva desde a iniciação até os níveis mais avançados de treinamento. Foi notado, ainda, que o motivo crucial para o abandono foi resultante de todas as vivências e experiências pelas quais os sujeitos passaram durante todo seu processo de formação esportiva, da não valorização do treinamento a longo prazo e do desrespeito às características, necessidades e vontades do jovem considerado talentoso. Em síntese, foi propósito deste estudo provocar a reflexão em relação aos aspectos apontados como negativos durante as experiências dos sujeitos entrevistados, e ampliar as reflexões para um quadro mais amplo que envolve o contexto da formação esportiva em nosso país. Neste sentido, o conhecimento dos fatores que podem ter culminado com o abandono precoce pode auxiliar os envolvidos neste contexto a minimizar a incidência deste fenômeno. Ademais, ficou claro que vários fatores podem ter contribuído para o processo de abandono, não somente pelo fato de os sujeitos não atingirem ou não se manterem no esporte profissional, mas também porque tais aspectos estão associados a sentimentos impeditivos de um desenvolvimento adequado no processo de formação esportiva. Tais aspectos se voltam para pressão excessiva, frustração, decepção, tristeza, raiva, depressão. Entende-se que estes aspectos podem também ter limitado o desenvolvimento integral dos sujeitos pesquisados, descaracterizando assim o papel de educar para a vida que o esporte possui.