Integra

 As recentes estatísticas têm demonstrado que a população brasileira tende a uma expectativa de vida mais avançada, o que somado a diminuição da taxa de natalidade, aumenta o percentual de idosos em nosso país.


 A despeito da escola pública, mais especificamente as da rede estadual oficial (campo de atuação comum a estes pesquisadores), não estar discutindo muita coisa além dos conteúdos específicos das disciplinas, e o que é pior, fazendo-a isoladamente, as discussões desenvolvidas durante o período 2000/2 na disciplina "A escola preparando para um envelhecimento saudável" do Curso de Especialização em Educação Física Escolar da UFF, alertou-nos para a responsabilidade da escola no tratamento desta problemática.


 A partir da exigência daquela disciplina, de um trabalho que relacionasse a Educação Física escolar e a sua atuação na perspectiva proposta em seu conteúdo programático,qual seja: " [...] preparar os jovens para compreender o envelhecimento saudável." (ALVES JÚNIOR, 1998, pp.01-02) resolvemos investigar a forma como três grupos sociais/etários distintos, pensam o envelhecimento, a velhice e a vida asilar, observando convergências e divergências de conceitos, pré-conceitos e estereótipos, que nos possibilitassem o melhor entendimento desta problemática, no sentido de uma efetiva intervenção no cotidiano escolar, como propugna a lei 8.842 de 03 de julho de 1996, que trata da Política Nacional do Idoso: "[...] inserir nos currículos mínimos nos diversos níveis de ensino formal, conteúdos voltados para o processo de envelhecimento de forma a eliminar preconceitos e a produzir conhecimentos sobre o assunto;".


 Entendendo a representação social.


 Para refletir melhor a imagem do idoso, da velhice e as questões que envolvem o processo do envelhecimento dentro de nossa sociedade, precisamos entender alguns pontos .


 Pouco nos adiantaria iniciar uma intervenção programática na escola no sentido unilateral de preparar somente nos aspectos biológicos o nosso alunado para a velhice e para o envelhecimento. Se uma melhor qualidade de vida na velhice pode ser um dos objetivos da Educação Física escolar, à primeira vista, este parece ser para a criança/adolescente um futuro muito longínquo. Necessitávamos pois, de um diagnóstico que nos demonstrasse qual a perspectiva futura deste jovem e mais ainda, achávamos importante saber que tipo de relação e de representação ele mantém com o idoso hoje. À escola cabe discutir conceitos e, mais que isso modificar procedimentos e atitudes.


 Nos instigava também saber se a representação da velhice no jovem guardava alguma identificação com a representação que o próprio idoso tem de si, para isso buscamos um referencial em outros dois grupos: um grupo de professores aposentados e um grupo asilar. Para nós o asilo é um grande demarcador de opiniões.


 Nos propusemos a um estudo de representação social por entendermos que a abordagem que devíamos dar ao tema na escola deve ser do geral para as especificidades, neste sentido entendemos como Emile Durkheim (in MOURÃO, 2000) que "[...] as representações coletivas são exteriores com relação às consciências individuais [...] não derivam dos indivíduos considerados isoladamente, mas de sua cooperação, o que é bastante diferente" (p. 09).


 As mudanças nas atitudes a partir do diagnóstico traçado dos grupos estudados podem nos levar a uma melhor intervenção na escola, desta forma utilizamos a conceituação de Denise Jodelet (idem) que entende representações sociais como "[...] uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e compartilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social"(p. 07).


 Os grupos sociais estudados.


 Enquanto objetivo de intervenção, entendemos como principal fonte diagnóstica os próprios alunos. O grupo estudado é de 8a série do ensino fundamental da Escola Municipal Milton Campos, situada em Bangu, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, com idade na faixa dos 14 anos.


 Os dados mais significativos obtidos na tabulação dos questionários entregues pelos alunos, importantes portanto para o nosso trabalho foram os seguintes:


 Quase a totalidade dos alunos convive com idosos e têm preocupações com a perspectiva /possibilidade do envelhecimento. É importante ressaltar que esta preocupação é oriunda de fatores estéticos (população feminina) e performance física (população masculina).


 Deve-se salientar que 80% dos alunos têm aversão à vida asilar (para si e para outrem).


 O segundo grupo analisado, professores {importantes para nosso trabalho, visto serem formadores de consciência) aposentados, militantes sindicais, foram abordados durante o Congresso Estadual do SEPE/RJ, nos dias 24 e 25 de novembro de 2000. Foram devolvidos 11 questionários dos 20 distribuídos. Os entrevistados tinham idades que variavam de 50 a 64 anos, sendo dez mulheres e um homem, oito deles exercendo funções de direção no sindicato, seja à nível central e/ou regional. Todos militam há 20/25 anos.


 As principais conclusões das entrevistas foram:


 Aproximadamente 90% dos entrevistados relacionam velhice com inatividade/improdutividade, e têm a perspectiva de um futuro ativo e produtivo, descartando a possibilidade de uma vida asilar. A militância político/sindical é um fator que influencia positivamente a qualidade de vida das pessoas entrevistadas.


 Em torno de 30% dos entrevistados não vêem o asilo negativamente, enquanto que os demais abominam esta instituição.
O terceiro grupo investigado não respondeu à nenhum questionário estruturado, mas travou diálogos com o pesquisador, tratando-se de um grupo asilar localizado no município de Nilópolis na baixada fluminense no Estado do Rio de Janeiro.


 O espaço físico do asilo se trata de uma casa não muito grande com quartos e camas para todas as internas; refeitório com televisão e varanda e um quintal enorme com muitas árvores. A casa é clara, arejada e limpa.


 No asilo havia nove idosas. Duas com idade até 60 anos, porém doentes e as demais acima de 75 anos.


 Duas pessoas se revezam nos cuidados com as internas.


 Há horários estabelecidos para a rotina ( refeições, higiene, etc.). Elas não saem da varanda e não fazem nenhuma atividade que não as necessárias fisiologicamente e não aproveitam o espaço externo. Assistem televisão e ouvem rádio.


 A entidade é mantida por uma família com seus próprios recursos.


 A maioria das internas não tem família e as que têm não recebem a sua visita, pois a própria mantenedora solicita que os familiares não as façam. As internas são visitadas por vizinhos do próprio asilo, que inclusive ajudam na manutenção do mesmo. Essas visitas e ajudas ocorrem nos finais de ano.


 O retrato que se tem desta realidade é uma total perda dos vínculos familiares e a afetividade própria destes vínculos, perda da identidade (passado, história pessoal, etc.), total imobilidade motora e perda da autonomia.
O que se propõe a estas pessoas é sentarem-se e verem o resto da vida passar.


 Nas entrelinhas


 A partir de uma leitura mais acurada dos dados podemos inferir algumas conclusões dos grupos.


 Percebe-se que os jovens parecem ter boas relações com os idosos e que essa relação é pautada no respeito. Vêem na instituição asilo uma forma de se relegar o idoso e portanto não colocariam parentes nestas instituições e nem se proporiam a ir para elas.


 Um fato relevante é a ligação beleza/performance física (motora) com o novo e a perda da beleza e da performance com o envelhecimento, sendo estas as maiores preocupações do adolescente.


 As últimas reportagens veiculadas na imprensa podem ajudar a entender o reforço que o jovem sofre na representação que faz dos asilos, assim como o culto ao corpo perpetrado na mídia no reforço à representação que faz do novo/velho.


 Caberia à escola trabalhar a necessidade do respeito ao idoso e conseqüentemente à outros grupos, independente da capacidade de produção e dos padrões estereotipados de beleza produzidos pela mídia. Como diz PAZ, os idosos devem ser respeitados com todas as suas características, pela aparência estético-física, cabelos brancos, enrugados, lentos, mas também pelo acúmulo de experiências e contribuição com a história.


 É preciso que não se entenda produção como algo de cunho exclusivamente econômico. Sentir-se produtivo deve ter a ver com estar em atividade independente de que tipo seja.


 Cabe à educação física mostrar aos alunos através de estudos, pesquisas e da própria atividade, os benefícios de uma vida ativa, para que ele faça a sua opção ou não de prática de lazer. E mais ainda, deve contribuir para despertar no aluno a percepção crítica para a forma de tratamento dispensada ao idoso, as suas transformação biológicas, os aspectos, políticos e sociais que envolvem este envelhecimento e as questões de afetividade desta etapa da vida que todos possivelmente viverão.
Obs: Os autores, prof. Aldracir Casanova Cunha, profa. Luciege Lacerda Lopes Canário e Paulo Roberto dos Santos são pós- graduandos em Educação Física Escolar na UFF


 Referências bibliográficas


 Alves Júnior, E. D. (1998). Proposta de disciplina para o VI Curso de Especialização em Educação Física Escolar. (mimeo)
Brasil,( 1994 ). Lei 8.842, Direitos da Terceira Idade, Brasília: D.O.
Mourão, L. (2000). Representação social da mulher brasileira nas atividades físico-desportivas: da segregação à democratização. Movimento, 7(13), 05-18.
Paz, S.F. (2000). Espelho... espelho meu! Ou das imagens que povoam o imaginário social sobre a velhice e o idoso. In S. F. Paz (Org.). Envelhecer com cidadania: quem sabe um dia? (pp 43-84). Rio de Janeiro: ANG.