Resumo
A presente dissertação tem por objetivo analisar, discursivamente, a fala dos alunos dos cursos de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) apresentados nos relatórios de avaliação dos currículos dos cursos da UFRGS elaborados pelo Núcleo de Avaliação da Unidade (NAU), buscando compreender os processos discursivos que fazem significar saúde na formação em Educação Física, sabendo que esta última é marcada em sua história pela compreensão da saúde por um viés que privilegia a esfera biomédica em detrimento da perspectiva sociocultural como determinante nos processos de saúde-doença. A UFRGS, de forma inovadora e tendo como base a inserção formal da Educação Física como uma das profissões da área da saúde, passa a incluir nos currículos dos cursos de Educação Física, a partir de 2012, disciplinas que têm como foco o entendimento de saúde considerando as esferas sociais, culturais e históricas (conceito ampliado de saúde), buscando formar profissionais alinhados aos princípios do Sistema Único de Saúde. Utilizando do dispositivo teórico-metodológico da Análise do Discurso, fundada por Michel Pêcheux, as análises propuseram tecer as diferenças, as convergências, as contradições e os silenciamentos nas falas dos estudantes a respeito da formação inicial. Compreendo que os sentidos de saúde têm sido reproduzidos na área ao longo do tempo. A dicotomia entre teoria e prática desponta por uma demanda dos alunos para o conteúdo prático, com maior ênfase nos esportes, e uma aversão aos componentes teóricos, considerados excessivos para a formação em Educação Física. Entretanto, ao falarem sobre a formação considerada ideal para um profissional na área da Educação Física, os conhecimentos teóricos biomédicos são considerados insuficientes. Portanto, essa oposição à teoria não é à toda e qualquer teoria e sim ao conjunto de disciplinas teóricas vinculadas às Ciências Humanas e Sociais. Os discursos marcam posições que entendem as disciplinas biomédicas como essenciais, bem como a exaltação dos conhecimentos técnicos e científicos e as disciplinas socioculturais como desnecessárias. A prática reivindicada pelos estudantes aproxima-se mais da formação oferecida por outras áreas da saúde na UFRGS, tal como a Fisioterapia, do que da própria Educação Física, haja vista a ausência de um perfil profissional do bacharel consolidado para a atuação no campo da saúde.