Resumo

Por em 14/04/2015 na edição 846

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A televisão, segundo Joan Ferrés (1998), “representa o triunfo da cultura da sedução, da cultura do desejo, não apenas porque é o principal motor na fabricação de desejos, como também porque ela mesma é expoente do desejo”. Imagem e som que sensibiliza e seduz. Segundo pesquisa realizada por Esporte Clube Ibope Media (2011), 72% dos brasileiros buscam informações referentes a esportes na televisão. Enquanto apenas 21% optam pelo rádio.

A máxima de que o Brasil é o país do futebol parece ter perdido o seu deslumbre após o vexame na Copa do Mundo em 2014, porém o futebol permanece enraizado na cultura do brasileiro. A popularização de alguns esportes, como MMA (tradução livre: artes marciais mistas), e, recentemente, o futebol americano. Parece tentar ofuscar as luzes da ribalta do futebol, mas a hegemonia do esporte no Brasil permanece intocável. E essa distância de anos-luz em relação a outros esportes parece estar longe de diminuir, afinal a popularidade do esporte atrai público e publicidade. A grande demanda e investimento de todos os lados apenas consolida o futebol no Brasil como o principal esporte.

A disputa pela audiência é sangrenta. Enquanto o canal Esporte Interativo tenta brigar com grandes emissoras para a transmissão de coberturas esportivas, principalmente o futebol europeu. A Globo, por sua vez, busca alternativas para aumentar a fraca audiência das noites de quarta-feira. Como analisa Paulo Vinícius Coelho (2008), o problema não está na transmissão do futebol em si. Mas na forma superficial de como é feita a sua cobertura, sem que haja uma imersão no tema em questão. O fato de um único esporte receber tanto foco deveria ser positivo no que se refere a ser mais elaborada e detalhada a cobertura do mesmo. Se, de fato, os critérios jornalísticos fossem empregados, outras editorias poderiam ser privilegiadas com um conteúdo riquíssimo, sem que o futebol deixasse de ser a plataforma para isso. “É possível fazer uma brilhante matéria sobre economia… A crise do Flamengo, incapaz de saldar dívidas e de manter seu orçamento no azul há mais de dez anos”, ressalta Coelho. Uma grande parte dos noticiários se detém em noticiar apenas os resultados das partidas, o factual tão somente. “A emissora transmite os jogos como show. Quase nada anda errado. Quase não se nota que o estádio, cenário do evento, está às moscas. Não se fala do gramado, do nível técnico, de nada. Tudo é absolutamente lindo”, ressalta Coelho. É um espetáculo.

É como se houvessem dois pesos e duas medidas. Parece que o futebol em relação aos demais esportes sofre de gigantismo. “Tal é a desproporcionalidade da cobertura esportiva da televisão aberta brasileira que, se fosse possível uma comparação com alguma outra área do jornalismo especializado como, por exemplo, a política, seria o mesmo que, guardadas as devidas proporções, as emissoras decidissem veicular apenas as notícias do Senado Federal, reduzindo ao máximo o espaço à Câmara dos Deputados”, destaca Mariana Oselame. O pano de fundo utilizado para tudo isso é o infoentretenimento, cujo conceito ainda está em construção e data do início do século, mas basicamente é a mistura de informar e entreter. Desconhecemos muitas vezes os critérios de noticiabilidade e os valores-notícia levados em consideração. O que se sabe, é que as seguintes práticas tem prejudicado o exercer da profissão e a ética no jornalismo. Temos falhado na missão de informar e faltado para com o nosso dever.

Referências bibliográficas

OSELAME, M. C. ; Cristiane Finger. “Entre a Notícia e a Diversão: Um Retrato do Jornalismo Esportivo de Televisão”. In: XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2012, Fortaleza. XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2012.

COSTA, CRISTIANE FINGER ; OSELAME, MARIANA. “Futebolização do esporte na televisão: compromisso com o jornalismo ou com os números de audiência?”. Estudos em Jornalismo e Mídia (UFSC), v. 11, p. 459-471, 2014.

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