Resumo
O Grupo “Araruna: Associação de Danças Antigas e Semi-Desaparecidas” foi criado pelo Mestre Cornélio Campina da Silva (1908-2008) e fundado nos anos de 1950, sob o apoio de figuras importantes, como Câmara Cascudo, Djalma Maranhão e Veríssimo de Melo. O Araruna apresenta, em sua estética, danças antigas que já estiveram nos melhores salões da aristocracia natalense. Essas danças narram sobre a cultura norte-rio-grandense, expressando nitidamente influências de festas antigas da cultura europeia, bem como outros sentidos culturais e simbologias que vão muito além do pouco que já foi escrito sobre esse fenômeno. Contudo, poucas são as pesquisas que se dedicam ao Grupo e muitos são os desafios que necessitam ser enfrentados para que essas danças não desapareçam. Eis uma das motivações desse estudo, que objetiva efetuar proposições estéticas do Araruna que componham uma educação do corpo por meio de uma tessitura de relações entre corpo, dança e cultura que configurem a estética do Grupo, elencando sentidos dos corpos brincantes e significações simbólicas das danças que colaborem com novos ensinamentos estéticos para a Educação Física. Situamos o Araruna no mundo vivido da fenomenologia de Merleau-Ponty, com o intuito de compreendê-los através do método da descrição, redução e imputação de sentidos nos registros fotográficos, nos vídeos das danças, nas entrevistas realizadas com doze brincantes e também das significações simbólicas contidas nos seus objetos cênicos: músicas, bijuterias, cartola, leque, maquiagem, cores e figurinos. Esses objetos configuram o ritmo da encenação das danças, intensificando a presença do corpo e seus sentidos, ampliando as sensações cinestésicas dos brincantes e dos espectadores. Logo, a dança potencializa a expressividade do corpo, configurando um espaço virtual, onde ela se apresenta como uma arte completa, de uma beleza que não se compara a nenhuma outra. Em primeira análise, há uma descrição sensível sobre a estética da tradição do Grupo Araruna considerando a ligação entre as danças e festas aristocráticas da Modernidade e a própria historicidade dos corpos brincantes do Araruna. Atrelado a isso, é realizada uma discussão sobre como essas danças se delineiam no espaço-tempo na cultura norte-rio-grandense, evidenciando a memória do corpo e da Cultura de Movimento do Araruna. Percebe-se que o Grupo apresenta um grande valor cultural que não pode ser entregue ao esquecimento, porque ele conta sobre a memória da dança em Natal, no RN e em todo o Brasil, revelando também narrativas de outras culturas, especialmente da Europa. Em segunda análise, são trazidos os aspectos objetivos e subjetivos dos objetos cênicos do Araruna, levando em conta todo o universo simbólico existente na estética dos corpos e das danças, tendo como principal inspiração as letras das músicas do Grupo, que desvelam relações entre corpo, cultura, natureza, ludicidade e sexualidade. Tais dimensões constituem forças profundas que integram, educam, animam e potencializam a existência humana. Em terceira análise, são apresentadas algumas proposições para uma estética do corpo, da dança e da Educação Física, partindo das significações simbólicas das danças do Araruna, buscando mobilizar outras reflexões que agucem a sensibilidade, intensificando a valorização da beleza do dançar e celebrar a tradição. Por fim, é trazida uma síntese do trabalho com apontamentos e indagações que possam contribuir para a feitura de novos horizontes para a dança e a filosofia do corpo, elaborando outros saberes e estudos na área de conhecimento da Educação Física que se debrucem sobre essa temática e temas afins.