A utilização dos jogos e brincadeiras infantis nas aulas de Educação Física
Por Alexandre Augusto Cruz de Oliveira (Autor).
Em II EnFEFE - Encontro Fluminense de Educação Física Escolar
Integra
Muitas são as questões que envolvem a Educação Física atualmente. Como as questões relativas a sua função como disciplina curricular, sua legitimidade e principalmente relativas ao grau de relevância de seu currículo.
Como sabemos que não é só a educação que passa por este momento de discussão de valores, torna-se mais simples entender que qualquer instituição passa por processos sociais que visam sua transição para padrões mais modernos que venham a atender novas demandas que surgem a partir do progresso e do desenvolvimento tecnológico causado pelo mesmo.
Partindo desse pressuposto, pretendemos discutir uma questão restrita a uma das ramificações da Educação Física que é a Educação Física Escolar e seus conteúdos pedagógicos, observando a utilização ou não de instrumentos educacionais que, ao nosso ver são de fundamental importância: os jogos e brincadeiras infantis.
Ao observarmos algumas aulas de Educação Física para turmas de 1º segmento do primeiro grau, constatamos que cada vez torna-se menos observável a utilização de jogos e brincadeiras que não possuam interligação direta ou indireta com o desporto.
A respeito dessa situação, Faria Jr. (1996) Comenta que:
"A respeito dos jogos populares a nossa realidade escolar, não se fará sem oposição. Primeiro será necessário convencer os educadores da seriedade do jogo como atividade na escola." (p.17)
Podemos salientar que a não utilização destas atividades pode ser explicada pelo alto grau de esportivização em que a Educação Física está envolvida desde a década de 70, supervalorizada pela mídia, ferramenta do modelo capitalista, que dita as normas de utilização e valorização de atividades a partir do que as mesmas possam gerar de retorno para a classe dominante.
É neste instante que a Educação Física passa a possuir a importância de servir como momento inicial de disseminação destes padrões, deixando de lado o que não tem valor para o sistema e estimulando as massas a cada vez mais a se interessarem em atividades com regras prontas que as inibem de exercitar suas capacidades e possibilidades de adquirir autonomia.
A mídia tem papel fundamental neste processo de ordenação das atividades utilizadas pelo professor de Educação Física em suas aulas, ditando as normas que o consumismo de nosso sistema econômico utilizam para manter as engrenagens funcionando.
Situação Problema.
Como podemos observar, a crise que envolve a Educação brasileira, reflete diretamente sobre a Educação Física, pois como um dos seguimentos do sistema de ensino, a Educação Física Escolar não deixa de ser como a própria Educação, um reflexo da sociedade em que está inserida por conseguinte, está sujeita aos mesmos processos sociais e problemas que os constituem.
Observando as aulas de Educação Física em escolas públicas e particulares, podemos constatar, dentre outras questões, uma que consideramos de fundamental importância para o professor de Educação Física e para o cotidiano escolar em que se encontra inserido: a não utilização de jogos e brincadeiras infantis nas aulas de Educação Física.
Levando em consideração que os professores possuem um conteúdo abrangente relativo a existência e utilização de tais jogos, a partir de sua formação acadêmica, onde adquiriu conhecimentos sobre recreação, psicomotricidade, lazer, folclore, etc, alicerçadas nos jogos e brincadeiras infantis (considerados molas mestras para a aquisição de conteúdos relativos ao desenvolvimento psicomotor da criança), torna-se interessante descobrir a causa do quase total abandono dessas atividades (jogos e brincadeiras infantis), em detrimentos de outros conteúdos, nem sempre apropriados para faixas etárias diferenciadas.
Faz-se necessário, portanto, salientar que este estudo parte do pressuposto que os jogos e brincadeiras infantis não são utilização nas aulas de Educação Física e busca constatar o porquê desta não utilização, cujo valor pedagógico dessas atividades, procuraremos ressaltar no decorrer deste estudo.
Justificativa.
Após uma minuciosa pesquisa, feita com professores de Educação Física na cidade de São Gonçalo, (o estudo "A utilização dos jogos e brincadeiras infantis nas aulas de Educação Física", UFF-1996) constatamos que boa parte desses professores, tanto em escolas públicas quanto em particulares, além de não fazerem uso das atividades mencionadas, desconhece suas características culturais e educacionais, as quais procuraremos expressar sucintamente nesta justificativa.
Por serem os jogos e brincadeiras infantis, atividade de fácil organização, materiais acessíveis e por possuírem formas de conhecimentos tradicionais provenientes de nossa cultura, consideramos que este estudo merecia ser desenvolvido de forma aprofundada, com o intuito de oferecer aos professores de Educação Física, o real valor didático-pedagógico destas atividades, de forma a embasá-los em suas atividades no cotidiano escolar.
Por conseguinte, desejamos salientar uma contraposição aos valores culturais impostos pela mídia que sufocam e inibem os diferentes segmentos sociais de terem acesso a estas formas relevantes de enriquecimento intelectual e cultural existentes nos jogos e brincadeiras infantis e por conseguinte contribuir para o aumento das possibilidades curriculares, relativas ao cotidiano escolar, como no caso das aulas de Educação Física, cujo conteúdo apresenta plenas possibilidades de aquisição de conhecimentos diferenciados
Objetivo
- Constatar se os professores de Educação Física tem utilizado ou não, os jogos e brincadeiras infantis em suas aulas escolares para o primeiro segmento do 1º grau.
- Identificar as razões para tais atividades serem ou não utilizadas em aulas de Educação Física.
- Discutir teoricamente o problema à luz do paradigma da cultura corporal.
Considerações Metodológicas
Após escolhemos a abordagem empírico-analítica (Gamboa. 1989) para nortear nossa pesquisa, e como estratégia o estudo de caso, partimos para a escolha de um instrumento que ao mesmo tempo agilizasse a pesquisa e por conseguinte trouxesse o maior número de informações sobre a realidade abordada para que alcançassemos a conclusão de nosso estudo.
Foi através de um questionário que recolhemos as informações que concorreram diretamente para o fechamento do estudo.
Conclusão
Após a análise das informações recolhidas durante a coleta de dados, encontramos algumas informações que condizem com a expectativa por nós apresentada no decorrer do estudo.
A grande maioria dos professores entrevistados através do questionário (mais de 70%) demonstrou relativo desprezo pela utilização dos jogos e brincadeiras infantis em suas aulas, bem como o desconhecimento dos aspectos culturais, educacionais e históricos contidos nestas atividades.
Outro parecer interessante obtido na pesquisa foi que os jogos e brincadeiras infantis quando não ficaram em 6º ou 7º lugar entre as demais atividades apresentadas para comparação (jogos pré-desportivos, educativos técnicos, contestes, piques, brinquedos cantados, atividades folclóricas), sequer foram indicadas como qualquer prioridade no contexto das aulas de Educação Física.
É a partir destes pressupostos que chegamos a conclusão que os jogos e brincadeiras infantis não possuem qualquer importância no contexto das aulas de Educação Física, tanto pelo desconhecimento de suas propostas e valores intrínsecos como pela falta de espaço hábil para sua utilização devida a supremacia de outros conteúdos nem sempre condizentes com a faixa etária característica do 1º segmento do 1º grau.
Com ênfase nesta conclusão, buscaremos a partir deste estudo, desenvolver um próximo estudo que visará realizar uma pesquisa minuciosa dos diferentes tipos de jogos e brincadeiras infantis utilizáveis nas aulas de Educação Física e seus aspectos culturais e educacionais, bem como buscar no currículo relativo a Educação Física escolar no 1º segmento do 1º grau formas pelas quais este conteúdo de significativa relevância poderá aumentar a gama de possibilidades dos professores de Educação Física no cotidiano escolar
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