Resumo

Esta pesquisa busca identificar os sentidos da aventura utópica na dança do cadeirante como (re)descoberta das linguagens corporais. Focaliza o ato mágico da imaginação desejante do (d)eficiente, estabelecendo o elo de ligação com o movimento, o ritmo, a sociedade, a vida. Busca satisfazê-lo, impulsionando-o em direção ao próprio corpo mutilado, metamorfoseando-o e considerando-o passível de realizar-se de forma palpável, concreta, além de prazerosa e expressiva. O prazer desse dançarino é sempre atualizado e (re)atualizado pela continuidade dos movimentos dançantes de sua cadeira de rodas e do par andante. A unicidade dessa tríade expressa sentidos dessa nova forma de dançar. A subjetividade apresenta estruturas míticas, arquetipais, fantasmáticas, formas arquitetadas através de pistas que só se revelam por via das linguagens que não se apresentam diretamente no imediato das falas. Por estarem camufladas nos silêncios, nas insinuações, só poderão ser percebidas pelo pesquisador que se proponha a buscar imagens do mundo interior, vividas entre o ser e o existir desses dançarinos. Segundo Durand, do imaginário emergem todos os medos, esperanças e frutos culturais. Dançar é movimento, uma das raras expressões de integração corpo-mente-espírito. Devido à complexidade do tema estudado, estão sendo adotadas diversas estratégias metodológicas, de caráter qualitativa, objetivando a captação dos aspectos que compõem o imaginário dos deficientes motores e que têm na dança seu elemento de inclusão. Assim, ao pesquisar sobre o ato mágico da imaginação, do encantamento, capaz de re-significar o objeto no qual se pensa, que se deseja, de modo à dele tomarmos posse, buscamos fundamentos nas abordagens de Bachelard, Gilbert Durand, Pessin, Postic, Campbell, Maffesoli, Eliade, Chevalier & Gheerbrant, Nilda Teves, Caillois. As construções teóricas da dança como produção de subjetividade, baseiam-se em Liberman e Laban. Objetivando coletar junto aos atores as informações necessárias, realizamos vinte entrevistas semi-estruturadas, com dezesseis cadeirantes e quatro andantes, buscando uma associação livre de idéias, mediante palavras indutoras- aventura, dançar, corpo, movimento, liberdade, cadeira de rodas. O dançarino assume, temporariamente, o lugar da dança e de um animal, permitindo formular sonhos projetivos, imagéticos. É a maneira que as polaridades encontram para se tocar e se transformar. Vários discursos emergem no universo das práticas alternativas dos deficientes. Fundamentamos a interpretação dos resultados na Análise do Discurso (AD), de Eni Orlandi, que entende linguagem enquanto lugar de conflito, tendo no silêncio seu elemento fundante, princípio de toda significação. Resultados apontam para tempo de dança como utopia, celebração, permitindo que expressem o desejo de dançar dos corpos paralisados que precisam da solidariedade andante para expressar sentimentos, emoções, espírito. Ao pisarem no palco, vivem seu duplo, fazendo da dança o sentido de vivificação desses corpos, no substrato estético da re-significação dos olhares.

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