Resumo
Frequentemente nos deparamos com notícias sobre casos de violência que acometem a sociedade brasileira. Este fenômeno, consequentemente, se reflete nas escolas, nas quais podemos observar crianças e adolescentes envolvidos em atos violentos cotidianamente. Concebida de várias formas na relação social, a violência pode ser caracterizada, a grosso modo, como imposição de algo realizado por um indivíduo/grupo social a outro indivíduo/grupo social contra a sua vontade, com uso de força ou não. Considerando a violência como um fenômeno social, neste trabalho, interessa-nos pensá-la nos modos como ela se manifesta no contexto escolar e, mais especificamente, nas aulas de EF. Esta disciplina coloca em evidência o corpo do aluno, dando visibilidade não só a composição corporal dos alunos, mas também às suas habilidades e inabilidades. Estas diferenças relacionadas ao corpo e ao movimento tornam-se, muitas vezes, justificativa para o preconceito e para a manifestação da violência durante as aulas. Dessa forma, é importante nos questionarmos sobre a concepção de violência com a qual tais professores trabalham e como agem frente a ela. Esta pesquisa, de caráter qualitativo, teve como objetivo analisar e compreender qual é o conceito de violência com qual operam os professores de EF escolar. Para isso, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com cinco professoras de EF da Rede Estadual de Ensino da cidade de Limeira - SP. O critério utilizado para a seleção das professoras foi a condição de que estivessem atuantes na disciplina por, pelo menos cinco anos. Os dados foram analisados, levando-se em conta questões como: quais são as diferentes formas de manifestação da violência nas aulas de EF; como os professores de EF percebem e compreendem esta violência; como eles atuam quando se deparam com estas situações em suas aulas. Percebemos, durante a análise dos dados, que alguns professores concebem a violência, em suas aulas, como manifestações agressivas tanto no aspecto físico quanto simbólico, como, por exemplo, através do desrespeito, de xingamentos e da agressão, em si. Percebemos que, para as professoras entrevistadas, tal violência não se manifesta apenas nas relações entre os alunos, mas também nas relações entre elas e os alunos e entre elas e os pais. Constatamos que, de maneira geral, as professoras se sentem despreparadas para enfrentar a violência na escola. Tal sensação de despreparo aponta para uma deficiência na formação acadêmica das professoras participantes da pesquisa, que alegam não terem recebido, ao longo do curso de EF, subsídios necessários para tratar do tema em questão. Os relatos feitos pelas professoras revelam proximidade com diversas pesquisas atuais sobre a educação no Brasil e apontam para problemas estruturais e institucionais. Consideramos, portanto, que o problema da violência na escola reflete as contradições da própria sociedade e, por isso mesmo, deveria ser tema obrigatório nos cursos de formação, bem como pauta principal nas discussões de legisladores e gestores da Educação Nacional.