Resumo
Esta investigação teórica procura identificar pontos de aproximação entre o conceito de potência orgástica, formulado pelo psiquiatra e psicanalista austríaco Wilhelm Reich (1897-1957), e o desempenho esportivo. Para isso procuramos focalizar o processo de evolução do conceito tendo como base os textos em que o apresenta e o define, partindo então para a exploração a respeito do conjunto de matizes e nuances que constituem a visão particular que Reich atribui ao termo potência. Em seguida, buscamos realizar essa aproximação com o desempenho esportivo nos sustentando em pesquisadores do tema, de modo a estabelecer pontos comuns de diálogo e similitudes que permitem um olhar sobre o desempenho esportivo à luz da obra reichiana, com especial ênfase à sua visão de potência. Por fim, fazemos uso da contribuição original de Albertini (1997) a respeito dos encontros potentes como forma de adicionar elementos à nossa reflexão e oferecer contribuições à compreensão do desempenho esportivo sob a ótica da psicologia profunda. Entendido primeiramente como a capacidade do indivíduo de se entregar ao fluxo de suas excitações sexuais no ato amoroso, de modo a atingir o orgasmo e assim descarregar sua libido represada, a evolução da obra de Reich aponta para a utilização do conceito de potência em outras dimensões da vida, nos levando a compreender que a visão de potência em Reich se refere à capacidade de ser humano estar presente e entregar-se em tudo aquilo que realiza. Essa visão se aproxima de conceitos utilizados na psicologia do esporte a respeito de estados ótimos de prontidão para o desempenho esportivo, apontados por alguns autores como ideais para a obtenção de resultados superiores. Essa aproximação, quando colocada sob o prisma da ideia de encontros potentes, nos permite reavaliar os aspectos estruturais que o conceito de potência possui no pensamento reichiano, assim como considerar a interferência dos processos transferenciais no desempenho esportivo, apontando para a ideia de que o desempenho esportivo não é afetado apenas por condições psíquicas individuais e isoladas do meio, mas especialmente pelo campo transferencial que se compõe no momento em que o desempenho ocorre