Resumo

Clarice Lispector, no romance Agua Viva, vai dizer que há momentos em que "o corpo não agüenta mais ser corpo", pois é ele que dá a garantia de que o sujeito é ele mesmo. As inesgotáveis buscas nos seus recônditos, na tentativa de descobrir as causas da morte, são um testemunho seguro deste "testamento" que é o corpo. Com base em ossos, arcadas dentárias, secreções, escamações da pele, nestes quase "detalhes" de um ser inteiro, histórias de vida são reconstruídas, reconhecimentos de indivíduos que um dia viveram histórias de afetos e de mágoas, desejos e gostos são, supostamente, contadas com o que restou da vida agora inanimada. O corpo é este espaço-tempo que tudo atesta, porque as marcas do que viveu estão nele inscritas; pode, então, ser pensado como um dos territórios mais visíveis de conexão entre natureza e cultura. Em sua visibilidade, o corpo permite, alegoricamente, ser interpretado e lido como texto escrito pela sociedade à qual pertence.

Acessar Arquivo