A zagueira que matou a fome jogando bola (Soró)

Parte de As pioneiras do futebol pedem passagem: conhecer para reconhecer . páginas 79 - 92

Resumo

A concentração de renda nas mãos de uma parcela mínima da população e sua injusta distribuição têm produzido uma profunda desigualdade social em nosso país. O que seriam direitos de todos, se pensássemos em uma sociedade humana e igualitária, aqui são privilégios de determinados grupos e sujeitos. Educação, moradia, saúde, trabalho, lazer, requisitos mínimos para uma vida digna, não são acessíveis a muitas pessoas, cuja existência é marcada pela extrema pobreza. Se para uns a abundância faz parte do seu cotidiano, para outros a falta de ter o que comer e de uma cama para dormir são situações corriqueiras em seu dia a dia. Solange Bastos, a protagonista desta história, conhece muito bem essa realidade. Oriunda de uma família de baixa renda, por muito tempo conviveu com a falta de alimento, a privação do estudo, a precariedade da moradia e tantas outras necessidades básicas, típicas de quem vive em situação de miserabilidade. Foi nesse contexto de tantas ausências que o futebol entrou em sua vida, inicialmente como uma forma de lazer na rua ou no campinho que existia em frente à sua casa, quando batia um baba juntamente com irmãos e amigos. O futebol era seu refúgio, sua paixão e seu divertimento. Nas primeiras vezes que apareceu para jogar não foi acolhida porque era menina, no entanto, diante da sua habilidade com a bola, passou rapidamente a integrar a brincadeira da molecada. Solange desde cedo se imaginava no futebol e nele idealizava sonhos e fantasias, mesmo quando estava sozinha brincando com a bola, fosse ela de pano, papel ou couro.