Resumo
O presente trabalho objetiva analisar, compreender e explicitar a Formação objetiva do sujeito representada pelos personagens Swann, Marianinho e Diadorim, a partir do pensamento de Th. Adorno sobre cultura e formação, tencionando pelos pressupostos teóricos dos Estudos Culturais. Discute-se a partir de algumas teses sobre a cultura em Theodor W. Adorno a assertiva de Stuart Hall sobre a necessidade de uma nova configuração do social na contemporaneidade, assertiva essa com a qual corroboram certas argumentações de Nestor Garcia Canclini, o qual enaltece a indústria cultural em sua dimensão integradora, apesar do efeito deletério de uma globalização concebida de forma unilateral pelos países centrais em detrimento dos periféricos. Esta discussão é materializada nos romances, como exemplo do campo empírico, de Marcel Proust: Un amour de Swann; de Mia Couto: Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra e de João Guimarães Rosa: Grande Sertão: Veredas, cujos personagens Swann, Marianinho e Diadorim (Reinaldo), cada um, na sua particularidade, desnuda as implicações dialéticas da formação objetiva do sujeito no mundo contemporâneo. O objetivo deste trabalho, portanto, é alcançar melhor compreensão desse tema, por meio: 1) da análise qualitativa de alguns escritos de Adorno, Hall e Canclini; 2) da verificação de como se localiza neles o conceito de cultura; 3) das leituras que estabelecem interfaces (aproximações e distanciamentos) conceituais entre Adorno e Hall frente à problemática da formação; 4) da recepção dos romances em alguns interlocutores privilegiados de Proust, Couto e Rosa. Os três personagens são analisados enquanto sujeitos que colocaram em prática sua formação, elaborando certos mecanismos subjacentes a sua subjetividade. Estes personagens são tomados como exemplo guia que materializa os pressupostos teóricos em torno da formação no âmbito da Teoria Crítica (Th. Adorno) e dos Estudos Culturais (S. Hall e G. Canclini). Outra razão que nos levou a escolher esses romances, além de sua beleza literária, é sem dúvida, de ordem pessoal, pois os três personagens de certa forma refletem um percurso vivencial semelhante ao nosso, uma vez que, ao viver tais experiências, nos defrontamos com outras tantas pessoas que resultaram de formações entrecruzadas, ou seja, pessoas que sintetizam as diversas realidades das quais foram fruto. Vivenciamos, pois, na realidade, como os mecanismos culturais e os dispositivos formativos são acionados diante de situações que requerem uma atitude diferenciada. Este trabalho argumenta ainda que a idéia da formação e o contexto cultural exercem um papel central na elaboração dos mecanismos culturais enquanto condição para a realização do sujeito. A teoria crítica e os Estudos Culturais, nossas principais referências, figuraram, neste trabalho, enquanto instrumentos (tecnologias, meios) dos quais nos valemos para tentar compreender um pouco mais algumas das mazelas universais representadas, em certa medida, pelos personagens acima analisados. Tais análises buscam contribuir para pensar a necessidade de se incluir o contexto sócio-cultural quando se fala em dispositivos educacionais que ambicionam a universalidade.