Integra

Esse termo (adultização) ganhou destaque nas últimas semanas, pela exposiçao infantil imprópria nas redes sociais - sem dúvida fruto da ganância doentia de alguns (influencers) e descuido total de outros (pais ou cuidadores), com a facilitação deliberada dos algorítmos das Big Techs. Toda essa discussão me fez lembrar do primeiro artigo que publiquei sobre um tema preocupante à época e não menos agora: A competição precoce e o treinamento especializado para crianças (Revista Comunidade Esportiva, 1980).

Passados 45 anos dessa fase em minha carreira universitária voltada, então, à teoria e prática do Treinamento Esportivo, penso que tal neologismo (adultização) poderia perfeitamente ser empregado em inúmeras situações envolvendo a competição e a criança. É inegável o potencial formativo e educativo da prática esportiva na infância e na adolescência. O treinamento especializado precoce, por outro lado, representa um risco, pela tentativa de antecipação de desempenho, queimando etapas naturais de desenvolvimento bio-psico-social.

A oportunidade adequada para os estímulos de treinamento é muito mais importante do que a precocidade. E muito mais eficaz no desenvolvimento atlético integral, quando os objetivos estão voltados ao alto desempenho adulto. No texto de 1980 escrevi: "...até a faixa dos 12 anos existe uma nítida controvérsia sobre os benefícios e os inconvenientes da competição esportiva... evidências indicam que as exigências físicas e o estresse psicológico associados ao treino/competição podem afetar negativamente o crescimento e o desenvolvimento infanto-juvenil saudável".

A queima de etapas, o volume intenso de treinamento e a exposição precoce à competição formal (frutos da orientação inadequada,  do descuido e ambição dos pais e de políticas/regulamentos muitas vezes equivocados) podem levar a danos permanentes, desde estruturais ou funcionais, a danos psicológicos e ao abandono da prática esportiva. 

A boa orientação (profissionais de Educação Física qualificados), a supervisão permanente dos pais (sem pressão pelo "campeão mirim"), a adequação dos ambientes de prática, o respeito às habilidades e interesses das crianças em cada etapa de desenvolvimento fazem toda a diferença. Crianças não são miniaturas de adultos. Let the kids play!

Grande Abraço.

Markus Nahas