Integra

Sempre acompanhei Afonsinho como jogador no meio-campo do Botafogo e como colunista da Carta Capital. O Afonso jogava o fino, com passes precisos, andar elegante e futebol vistoso e eficiente. Um craque.

Como colunista na citada revista sempre se posicionou ao lado das boas causas. Para meu espanto, em sua última coluna recebeu uma bola rolando macia, se atrapalhou e quase foi ao chão.

Primeiro, ao comparar Lula com Garrincha, afirmando que ambos tiveram em suas vidas um despojamento similar pelas coisas materiais. Equívoco crasso. Mané era um passarinho e Lula foi um atento e competente negociador como dirigente sindical, político partidário e Presidente da República. Uma comparação dessas não revela adequadamente quem é Lula e quem foi o grande Mané Garrincha.

Mas o mais grave é quando afirma: “Os governos liderados por Lula promoveram os dois maiores eventos esportivos, uma Olimpíada e uma Copa do Mundo, pensando grande no desenvolvimento do Brasil como um grande país como deve ser no seu gigantismo e nas suas potencialidades”.

O craque do Botafogo continua matando com a canela em sua coluna afirmando “(...) as instalações olímpicas, muitas agora deterioradas, pretenderam ser a base para o desenvolvimento do Brasil como potência olímpica de primeiro mundo (...)”

Puxa vida, o mesmo Afonsinho que veio me cumprimentar após uma palestra na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, na qual critiquei tudo isso.

Afinal, uma política de esporte em um país como o Brasil deve contemplar, como prioridade, o esporte social, com a maior parte dos recursos públicos investidos no setor. Consideramos esporte social o esporte cidadão, voltado ao atendimento das camadas mais pobres da população, praticado nas escolas e bairros populares. Na verdade, uma política de esporte no Brasil deve ser concebida no quadro mais geral das políticas sociais, abordada, sobretudo, como política pública de educação.

Na história da República brasileira nunca houve uma política de esporte tão excludente quanto aquela levada a termo pelo PT. Nunca os gestores das políticas públicas de esporte tiveram tanta evidência. E subiram ao pódio – incensados por Lula, Sergio Cabral e Eduardo Paes – gente como João Havelange, Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Carlos Arthur Nuzman. Lembrando para os esquecidos de plantão que Marin, governador biônico pela Arena, foi o mesmo que deixou suas digitais no assassinato de Wladimir Herzog, quando incitou os órgãos de repressão paulista a tomarem uma atitude pelo que denominou a infestação comunista na TV Cultura de São Paulo. Como conseqüência, prenderam Vlado e o assassinaram.

Nada disso, o prezado amigo Afonsinho aborda.

Priorizar o esporte de alto rendimento e os megaeventos é a opção coerente de um governo que tem como metas a ampliação do mercado interno e a redistribuição de renda?

Do ponto de vista educacional e pedagógico, privilegiar projetos vinculados ao esporte de alto rendimento é o mais adequado?

Cabe ao Estado deste setor da vida pública investir onde sua ação possibilitar a criação de mecanismos geradores de novos empregos, além da multiplicação de programas complementares à formação escolar da criança de baixa renda.

Investimentos no esporte social têm uma capacidade de geração de emprego cinco vezes maior (custo per capita) do que do alto rendimento.

E o maior desperdício de recursos públicos reside exatamente neste ponto, na definição equivocada de prioridades.