Resumo

Historicamente, a posição da mulher na sociedade tem se modificado. Neste contexto o esporte se mostrou um espaço significativo para participação feminina e para novas representações sobre a mulher e seu corpo. Neste sentido o fisiculturismo feminino nos parece como um importante paradigma para refletirmos essas representações sobre o corpo feminino no esporte e na sociedade. O presente estudo tem como objetivo analisar a trajetória da adequação dos corpos e representações de feminilidades no fisiculturismo feminino tendo como base as categorias de competição entre os anos de 1980 e 2016 da IFBB-Brasil, as quais passaram pelo processo de análise de conteúdo (BARDIN, 1977), juntamente com a realização de uma revisão de literatura baseada principalmente na obra de Le Breton “Antropologia do Corpo” (2016). Ao longo dos 36 anos analisados percebemos que as arquiteturas corporais concebidas na modalidade se alteraram significativamente. Nos anos de 1990 foi atingido o ápice da potenciliazação muscular com atletas muito musculosas que parece não ter sido “agradável aos olhos” - para usar um termo muito caro a confederação – culminando na exclusão de uma categoria (Culturismo Feminino). A preferência se volta ao estímulo de categorias nas quais as atletas desenvolvem a muscularidade de maneira moderada, a exemplo das atuais categorias - Biquíni Fitness, Wellness Fitness, Bodyfitness, Women Physique e Fitness Coreográfico feminino. Somada a esta muscularidade controlada são considerados outros “signos femininos” essenciais na avaliação das atletas, que independentemente do seu desempenho esportivo também estão submetidas a julgamentos de aparência e comportamentos. Ao apresentar algumas concepções desenvolvidas por David Le Breton ampliamos a compreensão de corporeidade feminina e os paradigmas que envolvem a atuação da mulher no campo esportivo, principalmente pelo conceito de “signos”, que nesse contexto foi vinculado aos “signos” de feminilidade normativa presentes nos regulamentos da confederação, como nos termos “feminina”, “esteticamente agradável”, “beleza facial”, “forma natural” e “visual atlético”. Após organizarmos e analisarmos os dados foi possível considerar que as modificações presentes nos corpos e nas categorias entre os anos de 1980 e 2016 apesar de representarem em muitos sentidos novas conquistas femininas no espaço do esporte, ainda submetem as atletas a uma feminilidade marcada por signos que as normatizam.