Integra

Escrever crônicas biográficas não é simples. Exige-se alguns cuidados. A capacidade de concisão utilizando poucas palavras, algumas vezes, pode reduzir o biografado a imprecisões e ou esvaziamento da importância histórica de alguns fatos e personagens, no caso, aqui, ídolos. 
É o caso de Friedenreich. Na última crônica, após alguns comentários feitos por alguns amigos, me dei conta da necessidade de fazer algumas correções e reforçar alguns aspectos históricos para além da própria biografia do El Tigre, como ficou conhecido Friedenreich. Ele, filho de um comerciante alemão com uma lavadeira negra, era definido como mulato na época e não como um homem negro, ou branco, como se atribui pelos critérios de heteroidentidade atuais. 
Abdias do Nascimento afirmava que o “processo de mulatização, apoiado na exploração sexual da negra, retrata um fenômeno de puro e simples genocídio. Com o crescimento da população mulata a raça negra está desaparecendo sob a coação do progressivo clareamento da população do país”. (1978, p. 69).
Imaginemos o Brasil do começo do século XX, em plena campanha de branqueamento. Campanha idealizada  como um projeto de nação. Tempos estranhos, digamos, pré fascistas.  Hoje, em pleno século XXI, por exemplo, é impensável um Congresso Universal das Raças. Mas aconteceu em 1911, em Londres, Inglaterra. Vale lembrar que a Inglaterra foi o berço de Francis Galton (1822-1911), biólogo e um dos pais da eugenia. As teses sobre branqueamento  foram defendidas pelo médico e antropólogo João Baptista de Lacerda, que representou o Brasil no evento racialista. Ele influenciado pela antropologia criminal de Nina Rodrigues (1862-1906), um dos defensores das teses de branqueamento da população. Obviamente, ele foi apoiado por outros cientistas e estudiosos da época, que defendiam teorias como a eugenia e a superioridade racial. 
 Dentre os conceitos importados da Inglaterra havia o de  “sportmen”  que se misturava com a figura de Friedenreich, o mulato futebolista, “quase branco”. Personagem perfeito para sustentar a teoria do branqueamento. Friedenreich personificava a tese da democracia racial, tese pretendida para a modernização pretendida para o Brasil, um caminho suave de exclusão da população negra. 

Para saber mais
- [ ] NASCIMENTO, do Abdias. O genocídio do negro brasileiro. Processo de um racismo mascarado. 1978. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro.