Resumo

Uma alternativa para o controle e a prevenção da hipertensão arterial sistêmica (HAS) é a prática regular do exercício físico. Estudos recomendam o exercício resistido (ER), principalmente em associação ao aeróbio, na prevenção desta doença, o que poderia ser uma alternativa inclusive para aqueles que têm pressão arterial (PA) dentro da faixa de normalidade, no entanto, apresentam predisposição genética para o desenvolvimento da HAS. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a influência do número de séries e da massa muscular em sessões de ER nas alterações cardiovasculares durante e após o ER em indivíduos normotensos fisicamente ativos com histórico familiar positivo (FH) ou negativo (FN) de HAS. A amostra foi composta por 12 FH e 10 FN 10, com idade média de 26,77 ± 6,26 anos e com no mínimo seis meses de prática de musculação. Os voluntários foram submetidos a 4 rotinas de ER a 10 RM: Rotina 1: 2 séries com predominância de exercícios uniarticulares; Rotina 2: 2 séries com predominância de exercícios multiarticulares; Rotina 3: idem a 1 com 3 séries e Rotina 4: idem a 2 com 3 séries. As alterações hemodinâmicas e autonômicas antes, durante e após o ER foram realizadas através de um frequencímetro de marca polar (S810) e da medida da PA pelo método auscultatório. A variabilidade da frequência cardíaca (FC) foi analisada no domínio do tempo e da frequência pela transformada rápida de Fourrier no repouso e no período pós ER. Não houve diferença na PA e na frequência cardíaca (FC) entre os grupos em repouso, mas o grupo FH apresentou maior balanço simpato vagal cardíaco (BF/AF) (2,89 ± 0,15) quando comparados com o grupo FN (2,38 ± 0,07). Não houve diferenças entre os grupos nas respostas de PAS, PAD e FC medida entre as séries de ER. No entanto, os FH apresentaram uma média de duplo produto (PAS x FC) maior na R4 (11.075 mmHg X bpm) em relação a R1 (15.203 mmHg X bpm), o que não foi observado no grupo FN. O ER induziu hipotensão pós-exercício (HPE) em ambos os grupos, evidenciada por redução da PAS aos 90 minutos da recuperação nos FH (delta da PAS - R1: -7,20 ± 2,62; R2: -10,8 ± 1,50; R3: -7,20 ± 1,96 e R4: - 13,40 ± 2,07 mmHg) e nos FN (delta da PAS - R1: -7,75 ± 1,79; R2: -10,7 ± 1,19; R3: - 8,25 ± 3,01 e R4: -9,50 ± 2,50 mmHg). A redução do delta da PAS foi maior somente nos FH nas sessões de maior volume e/ou massa muscular (R2 e R4 vs. R1 e R3). Não houve redução da PAD após as rotinas utilizadas tanto em FH quanto em FN. Na recuperação, a FC foi maior em relação ao repouso até os 15 minutos na R1 e R3 e até os 30 minutos na R2 e R4 no grupo FN, mas permaneceu elevada até os 30 minutos em todas as rotinas no grupo FH. O ER induziu redução da modulação autonômica cardíaca no domínio do tempo, evidenciada por redução do desvio padrão do intervalo de pulso (IP) até os 15 minutos (R1, R2 e R3 para FN e R1 e R3 para FH) ou até 30 minutos pós ER (R4 para FN e R2 e R4 para FH), bem como aumento do BF/AF até os 15 minutos de recuperação para ambos os grupos. Aos 90 minutos do período de recuperação da R1 (2,12 ± 0,22) e da R3 (2,13 ± 0,28) observou-se redução do BF/AF somente no grupo FH em relação aos valores de repouso (R1: 2,79 ± 0,34 e R3: 3,03 ± 0,34) e obtidos na R2 (2,64 ± 0,32) e R4 (2,87 ± 0,28) no mesmo tempo. Concluindo, os resultados evidenciam que FH fisicamente ativos, mesmo em presença de normotensão, apresentaram aumento da modulação simpática cardíaca em repouso, bem como maior duplo produto durante o ER e resposta cronotrópica nos primeiros minutos de recuperação do ER em relação aos FN. Entretanto, O ER foi capaz de induzir HPE (ΔPAS) a partir de 60 minutos nos FH praticantes de musculação, sendo essa resposta acompanhada de normalização do balanço simpatovagal cardíaco (90 min da recuperação) nas rotinas envolvendo exercícios uniarticulares. Adicionalmente, FH foram mais responsivos ao ER, já que somente esse grupo apresentou redução da PAS após 60 minutos da rotina de ER de menor carga total (2 séries de exercícios uniarticulares) e potencialização da resposta hipotensora nas rotinas de ER envolvendo exercícios multiarticulares (2 ou 3 séries). Em conjunto, esses resultados sugerem que indivíduos geneticamente predispostos a HAS podem obter benefícios da prática regular de musculação, principalmente relacionada à HPE e normalização do exacerbada modulação simpática cardíaca em sessões de ER envolvendo exercícios com predominância de grupos musculares menores

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