Resumo
Diversos estudos familiares demonstraram a agregação familiar da hipertensão arterial, tanto entre irmãos, quanto entre pais e filhos. Trabalhos demonstraram que jovens normotensos, filhos de hipertensos, apresentam aumento da PA, dos níveis séricos de catecolaminas, redução da resposta barorreflexa e anormalidades metabólicas e endócrinas quando comparados a jovens filhos de normotensos. O objetivo do presente estudo foi avaliar as respostas hemodinâmicas, autonômicas e metabólicas induzidas pelo teste de estresse mental (TEM) e pelos testes de força máxima (TFM) isométrica e isotônica, bem como por sessões de exercícios isotônicos ou isométricos em jovens com história familiar positiva de hipertensão. Foram sujeitos da pesquisa
25 homens, com idade variando entre 18 e 35 anos, e com pressão arterial (PA) abaixo de 140/90mmHg, divididos em 2 grupos: 1) História Familiar Positiva de Hipertensão (HFP, n=13), indivíduos que pelo menos um dos pais fazia uso de medicamento para controle da hipertensão, e 2) História Familiar Negativa de Hipertensão (HFN, n=12), os pais eram normotensos e não faziam uso de medicação para controle da PA. O protocolo foi composto por três fases: 1. Coleta de sangue para avaliações bioquímicas; medidas de composição corporal; respostas hemodinâmicas (PA e freqüência cardíaca) e autonômicas (análise da variabilidade da freqüência cardíaca, VFC) ao TEM; 2. Avaliação das respostas hemodinâmicas e da VFC ao TFM isométrica e isotônica no dinamômetro isocinético (cotovelo e joelho); 3. Respostas hemodinâmicas, da VFC e metabólicas (lactato, glicemia, colesterol e triglicerídeos) a sessões de exercícios (30 minutos) isométricos ou isotônicos (joelho e cotovelo) com 50% da carga voluntária máxima obtida na fase 2. Os resultados obtidos demonstram que a composição corporal, a glicemia e o perfil lipídico plasmático em jejum, as catecolaminas, a PA sistólica (HFN:113±4 vs. HFP:110±2mmHg), a PA diastólica (HFN:77±4 vs. HFP: 76±2mmHg) e a freqüência cardíaca (FC) (HFN:71±2 vs. HFP:78±2bpm) foram semelhantes entre os grupos no repouso. Houve redução na variância do intervalo RR (HFN: 5933±693 vs. HFP: 2967±390ms2) e no componente de alta freqüência do RR (AF) (HFN:33±4 vs. HFP:21±3%), além de aumento no componente de baixa freqüência do. RR (BF) (HFN:66±4 vs. HFP:78±3%) e na relação BF/AF (HFN:2,3±0,7 vs. HFP:4,6±0,8) no grupo HFP em relação ao grupo HFN no repouso. Em resposta ao TEM, ambos os grupos apresentaram aumento da FC no 2º e 3º minutos de teste, no entanto, o grupo HFP apresentou maiores valores de FC no 1ºmin (HFN:77±1 vs. HFP:86±2bpm) e na recuperação (HFN:70±1 vs. HFP:79±2bpm) do TEM em relação ao grupo HFN. Após o TEM não houve diferenças na VFC entre os grupos estudados. Durante os TFM isométrica e isotônica observou-se aumento na FC máxima em ambos os grupos em relação aos respectivos valores de repouso, com aumento adicional no grupo HFP em relação ao grupo HFN após o TFM isométrico para membros inferiores. No entanto, a PAS apresentou-se maior imediatamente após os TFM somente no grupo HFP quando comparado ao seu repouso. No período de recuperação destes testes (15 min), a PA e a FC retornaram aos valores basais. No entanto, observou-se aumento da banda de BF e da relação BF/AF do RR somente no grupo HFN em relação aos seus valores de repouso após o TFM isométrico; não havendo diferenças na VFC entre os grupos nos períodos de recuperação dos TFM isométrico ou isotônico. Imediatamente após as sessões de exercícios isométricos e isotônicos a FC foi maior em ambos os grupos quando comparados aos respectivos valores de repouso. A PA diastólica não se alterou significativamente após as sessões de exercício e a PA sistólica foi semelhante entre os grupos após a sessão de exercícios isométricos, mas foi maior no grupo HFP em relação ao grupo HFN após a sessão de exercícios isotônicos. A glicemia, maior no grupo HFP (115±2mg/dl) em relação ao grupo HFN (105±1mg/dl) no repouso, foi normalizada após ambas sessão de exercícios. Os triglicérides, o colesterol e o lactato sanguíneos foram semelhantes entre os grupos no repouso e após as sessões de exercícios. As catecolaminas estavam aumentadas imediatamente após a sessão de exercícios isotônicos. Aos 90 minutos de recuperação da sessão de exercícios isométricos, observou-se valores semelhantes de PAS e de PAD entre os grupos; aumento na FC no HFP quando comparado ao seu repouso e ao HFN; aumento na variância do RR (6091±976 vs. 3296±385ms2) e na banda de AF (49±2 vs. 31±3%) no HFP quando comparado aos seus valores de repouso; além de diminuição da banda de BF (51±2 vs. 68±3 %) e na relação BF/AF (1,03±0,1 vs. 3,1±0,7) no grupo HFP quando comparado aos seus valores de repouso. Não foram observadas diferenças na VFC no grupo HFN em relação aos valores de repouso no período de recuperação (90 min) após a sessão de exercícios isométricos. Aos 90 minutos de recuperação da sessão de exercícios isotônicos, observou-se valores semelhantes de PAD entre os grupos; aumento da PAS no grupo HFP em relação ao grupo HFN; aumento da FC em ambos os grupos quando comparados aos respectivos valores de repouso; aumento na variância do RR do HFN quando comparado ao repouso (6904±441 vs. 5332±544ms2) e quando comparado ao HFP (4448±558ms2); aumento do componente de AF (49±2 vs. 31±3%) no HFP quando comparado aos seus valores de repouso; diminuição no componente de BF (51±2 vs. 68±3 %) e na relação BF/AF (1,03±0,1 vs. 3,1±0,7) no grupo HFP quando comparado aos seus valores de repouso. A PA sistólica, diastólica e a FC aferida pelos próprios avaliados através do uso de um medidor automático de pulso de PA não foi diferente entre os grupos, ou em relação aos valores de repouso, 4, 8, 12, 16, 20 e 24 horas após as sessões agudas de exercícios isométricos ou isotônicos. Os resultados demonstram que filhos de hipertensos, mesmo com valores de PA e de variáveis metabólicas semelhantes a filhos de normotensos, apresentam aumento na modulação simpato/vagal cardíaca em repouso o que provavelmente está relacionado a alterações na resposta cronotrópica e/ou pressórica nos testes fisiológicos de estimulação simpática. Todavia, o achado mais importante do presente estudo foi que filhos de hipertensos tiveram atenuação na reduzida VFC e melhora do balanço simpato/vagal cardíaco após uma única sessão de exercícios isométricos ou isotônicos, sugerindo que esta abordagem possa ser importante no manejo do risco cardiovascular em populações geneticamente predispostas.