Resumo
A falha na estabilidade escapular e no ritmo escápulo-umeral são associadas ao risco de lesão no complexo do ombro. Apesar de se saber que a estabilização ativa dos músculos escapulares é fundamental para evitar disfunções ainda pouco se sabe sobre como o controle postural no complexo do ombro ocorre e como tais mecanismos poderiam auxiliar na estabilização da articulação perante uma tarefa. Será que há ajustes posturais antecipatórios (APA) e compensatórios (APC) nos músculos escapulares (serrátil anterior, trapézio inferior e trapézio superior) em tarefas motoras que envolvem o movimento dos membros superiores? Como as ações motoras modulam a resposta postural dos músculos escapulares e globais (músculos do tronco e membros inferiores) para estabilizar e orientar o corpo? O objetivo deste estudo foi analisar a existência dos ajustes posturais antecipatórios e compensatórios nos músculos escapulares e globais em sujeitos ativos saudáveis em tarefas de membros superiores. Para tal, participaram 70 indivíduos ativos saudáveis (18 mulheres e 52 homens, 28,0±7,2 anos, 70,5±13,4 kg e 1,72±0,07 m). Foi mensurada atividade eletromiográfica do músculo focal Deltóide Anterior, músculos escapulares (Serrátil Anterior, Trapézio Superior, Trapézio Inferior) e músculos globais (Reto Abdominal, Eretor Longuíssimo, Reto Femoral, Bíceps Femoral, Gastrocnêmio, Tibial Anterior) em 4 tarefas de membros superiores (abdução no plano escapular, adução, flexão e extensão) executadas com halteres de massa 1kg e 3kg. Os resultados mostraram a existência de ajustes posturais dos músculos escapulares (p<0,001); a tarefa e massa influenciaram nos ajustes posturais antecipatórios e compensatórios (p<0,001); as tarefas de adução versus extensão não apresentaram diferença entre si na atividade muscular dos músculos escapulares durante os ajustes posturais antecipatórios e compensatórios (p>0,05); as tarefas de abdução versus flexão são semelhantes com massa 1kg (p>0,05), mas se tornam diferentes com massa 3kg (p<0,001) com relação a atividade muscular dos músculos escapulares e globais; nas tarefas de flexão e abdução os maiores ajustes posturais foram dos músculos escapulares (Serrátil Anterior e Trapézio Inferior) (p<0,001); nas tarefas de adução e extensão os maiores são dos músculos globais (p<0,001); os ajustes posturais antecipatórios e compensatórios foram maiores nos músculos escapulares Serrátil Anterior e Trapézio Inferior do que no músculo focal Deltóide Anterior (p<0,001); existiu modulações nos tipos e níveis de APA e APC nas tarefas de membros superiores (p<0,001). Em conclusão, temos uma associação de ajustes posturais como mecanismos de estabilização e orientação do ombro em tarefas dos membros superiores. No entanto, a intensidade e modulação dos ajustes posturais são afetadas pela tarefa e massa. Acreditamos que a atividade muscular dos músculos escapulares esteja diretamente associada a necessidade de minimizar a perturbação para a manutenção da orientação e estabilidade segmento (ombro), assim como atividade dos músculos globais está associada a manutenção da estabilidade e orientação do corpo. Esses achados podem ser utilizados para futuros estudos comparando sujeitos com disfunção e saudáveis e assim entender se há atividade anormal dos músculos escapulares nos períodos de ajustes posturais antecipatórios e compensatórios e se esta atividade muscular contribui para disfunção do complexo do ombro