álbum da Copa nas Escolas: da Proibição Aos Projetos Pedagógicos
Por O. M. S. Júnior (Autor), T. L. D. Santos (Autor), M. Z. Vassoler (Autor).
Resumo
No período que antecedeu e durante a Copa do Mundo da FIFA de 2014 as cidades brasileiras vivenciaram uma transformação em seus cenários, com uma movimentação de pessoas em torno das trocas de figurinhas do álbum oficial do evento. As bancas de jornais, praças públicas e shoppings centers tornaram-se pontos de comércio e troca das figurinhas, congregando pessoas de todas as faixas etárias e classes sociais. Como era de se esperar, as escolas não ficaram de fora desse processo, apropriando-se de diferentes formas do fenômeno do colecionismo. Partindo dessa contextualização, o presente estudo teve por objetivo analisar a forma como três escolas particulares de cidades do interior paulista, lidaram com a emergência do fenômeno das trocas de figurinhas em suas rotinas. Para tanto, a metodologia utilizada abarcou o uso de observações com registros em diários de campo, relatos informais e entrevista semiestruturada. Os resultados indicam que a escola A, quando confrontada com o problema da exploração comercial de crianças por parte de alunos mais velhos, optou pela proibição das trocas de figurinhas, embora os relatos dos alunos admitissem que ocorria um mercado paralelo, dissimulado no interior da própria escola. Já na escola B, as trocas de figurinhas aconteciam de forma espontânea, com pouca interferência da coordenação e sem restrições, essa escola também forneceu os álbuns e algumas figurinhas para seus alunos. Por fim, a escola C aproveitou-se do fenômeno do álbum de figurinhas, traduzindo-o em um projeto pedagógico com todos os alunos do 1° ao 9° ano do Ensino Fundamental (EF), articulando-se com seus projetos anuais voltados para cidadania e valores. Nessa escola, também foram distribuídos os álbuns e figurinhas para todos os alunos do EF, porém, diferentemente da escola B a escola C estabeleceu uma mediação nas relações de troca, atribuindo esse papel aos professores que ficavam encarregados de regulamentar as trocas entre os alunos, garantindo, dentre outros aspectos, a não comercialização de figurinhas. Segundo a coordenadora dessa escola, o projeto com o álbum possibilitou inúmeras intervenções por parte dos professores, que foram desde a introdução do conceito de troca para os alunos do 1° ano, até a articulação com passeios para o Museu do Futebol ou o campeonato de futebol de tampinhas com alusão ao Mundial. A partir desses resultados, podemos concluir que a abordagem de temas transversais ou emergentes no contexto escolar, encontra-se condicionada à perspectiva adotada por cada escola frente a esse fenômeno. Assim, enquanto algumas escolas negam-se a enfrentar uma situação tida como problemática, apelando para a proibição, perdendo oportunidades pedagógicas, outras escolas apropriam-se dessa situação de forma liberal, pouco interferindo nas dinâmicas sociais estabelecidas e, outras ainda, ousam transformar tais situações em projetos pedagógicos, potencializando suas ações de forma transdisciplinar.