Resumo

A atividade física é considerada uma prática que traz benefícios para o corpo e a mente. Entretanto, se por um lado há evidências de que exercício físico moderado pode ajudar a saúde mental, também existem relatos de alterações de humor com características depressivas associadas ao treinamento de atletas de elite, podendo culminar com o aparecimento da chamada “síndrome de overtraining”. Este trabalho procurou avaliar estas alterações de humor associadas a atividade física intensa, focando-se em três pontos: 1) caracterização de suas manifestações psicológicas, 2) avaliação da especificidade da associação e 3) verificação da possibilidade de alguma vulnerabilidade constitucional influenciar as alterações. Os sujeitos se dividiram em três grupos: atletas (N = 56, 30 homens – 26 mulheres; idade média = 18,16 anos), vestibulandos (222, 120 – 102; 17,48) e universitários (446, 259 – 187; 22,08). Instrumentos de avaliação de humor (POMS e PANAS-X) foram aplicados em atletas e vestibulandos em três oportunidades, ao longo da preparação para a competição mais importante da temporada ou o vestibular. Universitários, submetidos a estresse físico e intelectual estável e relativamente menor, foram avaliados apenas uma vez. Foram estudadas as variações de estados afetivos de cada grupo e suas relações com a quantidade de treinamento / estudo e a proximidade da competição / vestibular. O grupo de atletas e uma amostra de vestibulandos, definida randomicamente, foram avaliados com um instrumento de diagnóstico psiquiátrico (SCAN). Foi estudado, utilizando-se sintomatologia psiquiátrica prévia ou “afeto negativo traço” como marcadores, se fatores de vulnerabilidade exerceram algum tipo de influência sobre as alterações de humor em estudo. Os resultados foram avaliados segundo os três grupos de sintomas de um modelo tripartide de ansiedade e depressão: 1) um fator geral de afeto negativo, que inclui sintomas não específicos; 2) um grupo de sintomas relativamente específicos de depressão, o qual reflete falta de experiências emocionais positivas (chamado de afeto positivo), e 3) um grupo de sintomas relativamente específicos de ansiedade, o qual reflete manifestações de tensão somática. Foram encontradas alterações de humor entre os atletas. Suas características principais foram: aumento de fadiga, diminuição de afeto positivo e nenhuma alteração de afeto negativo (o que indica proximidade com o construto de depressão); associação com a quantidade e a intensidade de treinamento, mas não com a proximidade da competição; nenhuma influência de fatores de vulnerabilidade. Os vestibulandos também apresentaram alterações de humor, mas com características diferentes: aumento de fadiga, aumento do afeto negativo e nenhuma alteração do afeto positivo (o que indica proximidade com o construto de ansiedade); associação com a proximidade do vestibular (a associação com a quantidade de estudo não foi conclusiva); tendência de que fatores de vulnerabilidade ligados a sintomatologia psiquiátrica prévia influenciem sua intensidade. Esses resultados apontam para a especificidade da associação entre as alterações de humor encontradas entre os atletas e a atividade física intensa a qual se submetem.

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