Resumo

As amarrações e arrumações presentes no trajeto da história da educação das pessoas com deficiência no mundo e no Brasil culminaram em uma atualidade repleta de muitos nós. Esta realidade nos tem sido relatada por diversos autores e o tema se faz presente em vários segmentos como cursos de licenciatura, secretarias de educação e principalmente no âmbito escolar. Na tentativa de organizar as idéias e tentar trazer algumas respostas para o trabalho em uma escola que pretende ser inclusiva, elegemos o município de Hortolândia-SP como campo de nossa pesquisa, a fim de investigar as ações de implementação e as políticas de inclusão escolar. Para tanto, entrevistamos um grupo de 104 sujeitos composto por professores, diretores e coordenadores atuantes nas escolas municipais de Ensino Fundamental I. Utilizando como recurso metodológico a análise do discurso, focamos a chegada dos alunos com deficiência, a qual é responsabilidade do diretor; o planejamento das ações inclusivas, mediadas pelo coordenador; e a aplicação e metodologia das aulas, função dos professores envolvidos com o processo. Constatamos que a chegada das crianças tem ocorrido com dificuldades, visto que muitos pais não dão informações a respeito da deficiência e os recursos e adaptações específicas tem sido providenciados à medida que aparecem as necessidades. Sobre o planejamento, percebemos nos discursos das coordenadoras que ainda são insuficientes as horas de trabalho pedagógico coletivo entre coordenadores, professores e professores especialistas. Este fato reflete um distanciamento entre estes profissionais que pôde ser constatado quando analisamos a atuação das professoras especialistas e dos professores de Educação Física. Já os pedagogos, relataram que não recebem informações suficientes e utilizam atividades diferenciadas com o aluno com deficiência. Percebemos que os discursos dos envolvidos giram principalmente em torno da questão médico-corretiva, o que não permite que estes profissionais da escola se sintam responsáveis pelo aluno com deficiência. Concluímos que o processo de inclusão no município de Hortolândia apresenta uma organização que necessita de arrumações que dizem respeito a cursos de formação continuada que atendam as dúvidas e angústias referentes ao fazer pedagógico, assim como atividades e metodologias que realmente favoreçam a inclusão escolar; e a presença constante das especialistas para dar suporte ao professor. Destacamos também uma aproximação dos professores de Educação Física com o processo, uma vez que vinculados a área da saúde, tem conhecimentos dos aspectos biologicos e desenvolvimento humano que possibilitam ao profissional ter um olhar diferenciado sobre questões referentes a comportamentos motores atrasados, assim como o espaço da aula também favorece a percepção dos comportamentos sociais dos alunos, podendo trazer contribuições importantes para a inclusão das crianças. Acreditamos ainda que se faz necessário a criação do vínculo da escola com a área da saúde, que poderia acontecer por meio da inserção de profissionais desse segmento no ambiente escolar o que possibilitaria uma ampliação do conhecimento específico com relação a pessoa com deficiência aos demais profissionais reduzindo assim as incertezas e inseguranças presentes neste momento de implantação da inclusão.

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