Resumo

Nosso objetivo é identificar usos outros de uma matriz analítica para análise de imagens de pessoas praticando modalidades físico-esportivas de aventura. Com o aumento da disseminação imagética das práticas corporais de aventura, emergiu a inquietação a respeito de como organizar um modelo de estudo sobre as imagens (desenhos ou fotografias) de praticantes de aventura postas em circulação em diferentes mídias. Para tanto, tomamos contato com uma ferramenta, validada no contexto espanhol, para estudo de estereótipos corporais nas imagens impressas em livros didáticos de Educação Física. Em seguida, encontramos na literatura uma versão atualizada e validada para o Brasil, a qual ampliamos, em parceria com as autorias originais, para incluir, além do estudo do corpo, também variáveis referentes ao ambiente. Como referencial teórico, adotamos da Teoria Reflexiva da Educação Física, o conceito de movência, para pensar o movimento humano no tempo-espaço integrado à dimensão simbólica. E, dos estudos sobre ambiente-pessoa, trouxemos o entendimento de ambiência, como o ambiente da práxis, ou seja o meio no qual estamos, percebemos e agimos. A matriz analítica ampliada para a dimensão da ambiência foi apresentada a dois grupos amostrais de quatro pesquisadore(a)s cada. Após a validação de conteúdo, o constructo foi submetido a validação psicométrica, com eliminação de subvariáveis inconsistentes. O instrumento original possui duas dimensões categóricas (corpo e técnica da imagem) com suas respectivas subcategorias. O novo modelo acrescenta três dimensões: interação pessoa-ambiente, especificidades da modalidade e características do ambiente. Em interação pessoa-ambiente, são consideradas: tipo de lugar, nível de esforço, quantidade de participantes, distribuição no espaço, e contexto da interação. As variáveis estudadas em relação às modalidades de aventura são: modalidade(s), lógica interna motriz, e uso de materiais. Por fim, a respeito das características do espaço temos: meio (terra, ar, água), localização, tipologia do equipamento, e nível de interferência humana (antropomorfização). Os resultados são submetidos a uma abordagem quanti-qualitativa, de modo que após destacados os padrões e o desvios-padrão, se busca interpretar o significado daquele resultado. No que tange ao nosso propósito de testar aplicações para além do uso inicial da ferramenta (identificar estereótipos em livros didáticos), a matriz atualmente vem sendo explorada para investigar os marcadores sociais, as paisagens destacadas, as interações com o ambiente, e a composição biossocial e tecnológica dos corpos em selos, livros didáticos ou paradidáticos e figurinhas de modalidades específicas. Mais recentemente também foi testado no contexto de desenhos e fotografias que estudantes do ensino fundamental produzem, de modo a identificar padrões sobre o olhar discente. Os resultados vêm apresentando dicotomia no tratamento dado ao ambiente da aventura, de modo que a experiência da aprendizagem é remetida ao ambiente escolar enquanto os espaços naturais trouxeram maior diversidade de usos esportivos em comparação à hegemonia do alto rendimento retratado nas formas arquitetônicas. Sobre a questão da discriminação na Educação Física, se observa consistente equilíbrio entre homens e mulheres, mas não houve relevante diversidade étnico-racial. Assim, a ampliação do escopo do método, permitiu qualificar a abrangência das conclusões feitas nos trabalhos iniciais, restritos aos livros didáticos.