Resumo
O planejamento do ambiente construído, com atributos favoráveis à prática de atividade física (AF), é um dos investimentos que funcionam para a promoção da AF a nível populacional. Contudo, examinar esta relação no contexto dos usuários da Atenção Primária à Saúde (APS), os quais apresentam características que divergem da população em geral, é algo ainda inexplorado pela literatura. Portanto, o objetivo deste estudo foi analisar a associação entre os atributos do ambiente construído e a AF no tempo de lazer (AFTL) de adultos atendidos na APS de São José dos Pinhais, Paraná. Estudo quantitativo, observacional, transversal, realizado em 2019, com amostra representativa de 615 adultos (18-59 anos) usuários das 15 Unidades Básicas de Saúde (UBS) da área urbana da cidade. Os atributos do ambiente construído foram identificados por meio do Sistema de Informação Geográfica e incluíram indicadores de características da vizinhança (densidade populacional, densidade residencial, renda média da área e conectividade das ruas) e exposição aos espaços públicos abertos para a AF (EPA) (presença, densidade e distância de seis tipos de EPA – Núcleos de Esporte e Lazer, bosques, Centro da Juventude, espaços livres, parques e praças) contidos em um buffer de 500 metros no entorno das residências dos participantes pela rede de ruas. A AFTL foi avaliada com o International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) para identificar os níveis de caminhada e atividade física de intensidade moderada a vigorosa (AFMV) em dois pontos de corte (≥ 10 min/sem; ≥ 150 min/sem), totalizando quatro desfechos. Os dados foram analisados com a regressão de Poisson multivariável no SPSS 24.0, mantendo o nível de significância em 5%. A prevalência de alguma caminhada (≥ 10 min/sem) e AFMV (≥ 10 min/sem) foi de 25% e 21%, respectivamente. Enquanto a prevalência de caminhada e AFMV em níveis suficientes (≥ 150 min/sem) foi de 12% e 14%, de modo respectivo. Foi verificada associação positiva estatisticamente significante entre a densidade populacional, caminhada ≥ 150 min/sem (3o tercil: RP: 1,75; IC95%: 1,03-3,00; p<0,05) e AFMV ≥ 10 min/sem (3o tercil: RP: 1,50; IC95%: 1,04- 2,16; p<0,05). A maior distância ao Centro da Juventude foi positivamente associada com a caminhada ≥ 10 min/sem (3o tercil: RP: 1,47; IC95%: 1,04-2,09; p<0,05), assim como a presença de Núcleo de Esporte e Lazer foi associada com a caminhada ≥ 150 min/sem (RP: 1,77; IC95%: 1,02-3,07; p<0,05). Por outro lado, a presença de espaços livres foi inversamente associada à caminhada ≥ 10 min/sem (RP: 0,68; IC95%: 0,48- 0,95; p<0,05). Em conclusão, a maior densidade populacional, a maior distância até o Centro da Juventude e a presença de Núcleos de Esporte e Lazer aumentaram a prevalência da prática de AFLT dos adultos atendidos na Atenção Primária à Saúde, enquanto possuir espaços livres no entorno residencial reduziu a prática de caminhada. Estes resultados podem auxiliar nas estratégias de promoção da AF adotadas pelos gestores e profissionais das equipes das UBS.