Ana Maria Gonçalves e o campo de força do racismo estrutural
Integra
Ana Maria Gonçalves é a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL). Para os menos informados, foi Machado de Assis, homem negro e, talvez, o maior escritor moderno do Brasil, e quem protagonizou a criação da Academia, em 1897.
A presença de Ana Maria Gonçalves reforça o panteão de consagradas escritoras negras, como Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo e Djamila Ribeiro, apenas para citar algumas. Todas, entretanto, precisaram romper as barreiras do racismo estrutural, construído como uma espécie de campo de força que impede pessoas negras de ascenderem como protagonistas. É esse mesmo campo que sustenta o racismo institucional, responsável por invisibilizar o talento e a produção intelectual da população negra brasileira.
Em entrevista ao Geledés, o sociólogo Clóvis Moura afirmou: “O negro, que é praticamente a população brasileira na sua estrutura básica, é colocado como se fosse uma coisa exótica dentro da nação brasileira.”
A obra de Clóvis Moura propôs uma releitura da história do Brasil, colocando os heróis populares negros, como os líderes quilombolas, no centro da narrativa, em vez de manter o foco apenas nas figuras que alcançaram reconhecimento dentro das estruturas de poder existentes.
Curiosamente, apesar de negros e negras constituírem a maioria da população brasileira, continuamos sendo minoria nas instituições. Vejamos o futebol: a maioria dos jogadores é negra, mas dirigentes e treinadores negros são praticamente inexistentes.
O primeiro ministro negro, a primeira escritora negra, o primeiro treinador negro, o primeiro médico negro… estamos em pleno século XXI, e o racismo parece ganhar novas formas de força e permanência. O poder e os privilégios reservados aos não negros no Brasil beiram o sarcasmo diante da chacina cotidiana de pessoas negras e das barreiras erguidas nas instituições e na própria estrutura da sociedade brasileira.
Professor Alexandre Machado Rosa
Doutor em Saúde Coletiva (FCM/Unicamp)
Mestre em Educação Física (FEF/Unicamp)
Docente do IFSP – Campus Pirituba
Homem Negro