Análise Comparativa do Comportamento Pélvico e Lombar Durante o Exercício Agachamento Realizado com e Sem o Uso do Calço de Apoio
Por Juliano Dal Pupo (Autor).
Integra
INTRODUÇÃO:
O exercício meio agachamento, caracterizado assim por flexionar o joelho somente até o ângulo de 90º, é largamente utilizado nos treinamentos resistidos com pesos (TRP). Este exercício pode ser executado com os calcanhares apoiados em uma plataforma ou calço, com o intuito de melhorar o equilíbrio na fase excêntrica, sem que o tronco precise projetar-se anteriormente. No entanto, se o executante fizer o exercício com todo calcanhar apoiado no chão, a manutenção do equilíbrio só é conseguida na fase excêntrica pela projeção do tronco anteriormente (flexão do quadril). Com o aumento da flexão do quadril, o braço de momento da resistência para essa articulação aumenta, aumentando a ação dos extensores da coluna e os riscos de lesões. Essas diferentes situações podem afetar o posicionamento da coluna lombar e da pelve, assim, objetivou-se verificar o comportamento dessas estruturas nas situações com e sem o uso do calço no calcanhar durante o exercício agachamento. O conhecimento da movimentação das estruturas corporais em atividades físicas, neste caso da coluna vertebral e pelve, é importante no sentido da correta indicação deste exercício tanto para as pessoas que buscam o rendimento como para as populações que buscam reabilitação músculo-esquelética. Assim, a análise biomecânica pode contribuir de maneira efetiva para entender o controle do movimento e assegurar proteção ao aparelho locomotor.
METODOLOGIA:
Foi utilizada videografia tridimensional com duas câmeras de vídeo do Sistema Peak Motus operando à freqüência de 60 Hz. Foram fixados marcadores reflexivos esféricos nas seguintes referências anatômicas: 12ª vértebra torácica, vértebra lombar mais profunda, vértebra lombo-sacra, espinha ilíaca ântero superior direita (EIASD) e trocânter maior do fêmur direito. Participaram deste estudo 4 sujeitos do gênero masculino com idades entre 22 e 26 anos, com o mínimo de um ano de prática no exercício. Os sujeitos realizaram 10 repetições máximas nas duas técnicas distintas (com e sem o uso de calço), sendo utilizada para análise apenas a quinta repetição. As variáveis cinemáticas analisadas foram: ângulo da coluna lombar (formado entre os pontos anatômicos T12, vértebra lombar mais profunda e lombo-sacra) e ângulo de inclinação pélvica no sentido ântero-posterior (formado entre a lombar mais profunda, lombo sacro e EIASD). O tratamento estatístico utilizado foram os testes de Wilcoxon e Krusca-Wallis, com o intuito de verificar as possíveis diferenças entre as situações analisadas.
RESULTADOS:
As variáveis foram analisadas em duas posições: em pé (início do movimento) e agachada (final do movimento) com e sem o uso do calço no calcanhar. Os sujeitos apresentaram, para a coluna lombar, média de 164,66±2,91° para a posição inicial do movimento (A) e 169,30±2,79° para a posição final do movimento (B), na situação sem calço. Já para a técnica com o uso do calço, a média encontrada na posição A foi de 164,21±2,68° e na posição B média de 170,69±1,26°. Já para a pelve, na situação sem calço, apresentou o valor médio 79,22±6,61 na posição A e 68,59±5,41 na posição B. Com uso de calço no calcanhar, os valores médios na posição A passaram para 83,74±8,31 e na B para 71,57±7,05. Verifica-se uma retificação da coluna lombar passando da posição A para a B nas duas técnicas, pois as angulações aumentaram. Tal comportamento explica-se em função da flexão do tronco, característico do agachamento, causando o aumento do arco lombar com média de 4,64º sem uso de calço e de 6,48º com calço. Em relação à pelve, os valores angulares indicam a ocorrência de retroversão pélvica passando de A para B, com e sem o uso de calço, pois os ângulos diminuem.
Comparando as duas situações, verificam-se valores maiores no início e fim do movimento quando usado o calço, podendo-se dizer então que a pelve parte e termina a fase do movimento de uma posição mais antevertida em relação ao não uso do calço de apoio. A estatística aplicada não apontou diferenças significativas a p<0,05 entre as técnicas.
CONCLUSÕES:
A partir dos dados encontrados, concluiu-se que ocorreram variações angulares na movimentação da coluna lombar e pelve entre as situações analisadas, no entanto, a estatística utilizada não apontou diferenças significativas entre ambas. Através da análise das angulações, pode-se perceber que no uso do calço a coluna lombar apresentou-se mais retificada e a pelve mais antevertida. Sugere-se que novos estudos sejam realizados com análise de diferentes intensidades e com maior número de sujeitos para alcançar um padrão de movimentação para as técnicas.