Resumo

O estudo da relação entre o trabalho e a saúde implica uma correta identificação dos fatores ocupacionais intervenientes, assim como os seus efeitos sobre os trabalhadores. Entre os vários fatores de risco ocupacionais tem significativa importância a exposição a posturas e movimentos potencialmente geradores de lesões músculo-esqueléticas. Em função das características das atividades estudadas e dos objetivos pretendidos com a análise, podem ser empregues métodos distintos de análise de posturas e movimento. Uma série de características da atividade determinam a escolha do método de análise de postura/movimento, tais como a maior ou menor prevalência da componente dinâmica da postura, o grau de precisão requerido, a complexidade do sistema em estudo, entre outras variáveis. Com o advento dos métodos de análise de imagem, a ergonomia, e mais concretamente a área da biomecânica, encontrou apoio em alguns destes métodos com o intuito de oferecer dados mais precisos para a avaliação do risco postural. Os métodos de análise de imagem utilizados em ergonomia são extremamente úteis em todo o processo de avaliação postural. O propósito deste estudo é a avaliação de posturas/movimento com recurso a um programa informático gratuito de análise vídeo (Kinovea). Este programa permite a obtenção das variáveis cinemáticas (posições e velocidades) da postura/movimento, a partir das imagens captadas. Paralelamente, um grupo de observadores identificou os dados posturais através de observação direta apoiada em imagens. Posteriormente, já fora do ambiente laboral, as variáveis cinemáticas provenientes das duas fontes de leitura postural constituíram uma parte importante dos inputs para a avaliação do risco associado às posturas de trabalho. Esta avaliação foi realizada com recurso a um dos tradicionais métodos frequentemente utilizados para esse efeito, o REBA. Por último, foi efetuada a comparação dos resultados das duas avaliações e foram apresentados alguns dos pontos fortes e das fraquezas do programa informático utilizado no tratamento de imagem vídeo, no contexto da avaliação postural. Embora sejam necessários mais estudos, o presente trabalho parece apontar para uma maior precisão dos parâmetros posturais obtidos através do Kinovea relativamente àqueles que são obtidos por observação direta. Os dados assim obtidos poderão permitir uma maior precisão na avaliação do risco associado às posturas de trabalho. Contudo, esta precisão poderá estar dependente da sensibilidade do método de avaliação do risco utilizado às variações dos dados posturais obtidos por diferentes métodos, já que as diferenças registadas entre os parâmetros posturais obtidos pelos dois métodos não parecem apresentar grandes reflexos ao nível da avaliação do risco, efetuada através do método REBA. Embora no âmbito deste trabalho não tenha sido possível fazê-lo, seria interessante analisar a sensibilidade de outros métodos de avaliação do risco às variações dos parâmetros posturais obtidos pelos dois métodos aqui utilizados. 

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