Resumo
O presente trabalho relata uma análise de problemas ligados à linguagem escrita, apresentados por alunos repetentes de primeira série e de classes especiais. Efetuou-se um levantamento das dificuldades específicas destas crianças em diferentes tarefas, com foco na habilidade de análise e síntese dos aspectos visuais e auditivos em atividades de linguagem e escrita. As crianças foram submetidas a um instrumento de avaliação composto de oito tarefas: escrita livre, pareamento visual, transformação de palavras apresentadas visualmente, identificação de posição de sons em palavras e em pares de palavras, ditado de palavras e texto, cópia de palavras e de texto e leitura de palavras e de texto. Para avaliar o grau dos problemas ligados à discriminação visual e auditiva, o instrumento continha vários elementos de similaridade grafo-fônica. Além disso as seguintes variáveis foram focalizadas: familiaridade das palavras (familiar x não-familiar), tipo de letras (imprensa x cursiva), e palavras isoladas x textos. As respostas das crianças foram categorizadas em termos dos tipos de dificuldades apresentadas em cada tarefa. Os resultados mostraram maior facilidade das crianças em lidar com palavras isoladas do que com texto. De modo geral, a familiaridade das palavras e os tipos de letras não determinaram variações marcantes no desempenho. As tarefas que se mostraram mais complexas foram as de: escrita livre, ditado de texto e leitura de texto. Nestas duas últimas as dificuldades mais acentuadas foram as omissões e as trocas de letras. Nas várias tarefas a similaridade grafo-fônica determinou uma pequena parte das dificuldades observadas. Os dados foram discutidos em termos da teoria da clareza cognitiva e das análises que enfatizam a predição como componente do processo de leitura, sugerindo que o problema dessas crianças não é basicamente discriminativo e sim de compreensão da função e do caráter da própria atividade de ler e escrever.