Resumo
Introdução: a obesidade e Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) são doenças que podem afetar a capacidade cardiorrespiratória de exercício, no entanto, a literatura acerca dessa temática ainda é contraditória, o que pode estar relacionado a fatores como heterogeneidade da amostra, insuficiente avaliação em mulheres obesas e gravidade da síndrome. Objetivo: analisar o impacto da gravidade da SAOS na capacidade cardiorrespiratória de exercício em mulheres obesas. Métodos: trata-se de um estudo observacional do tipo transversal. A amostra foi composta por 30 mulheres entre 18 40 anos com obesidade (IMC >30) e apneia obstrutiva do sono, residentes da cidade de João Pessoa-PB. Foram incluídas mulheres com SAOS leve, moderada e grave, sem doença obstrutiva ou restritiva pulmonar, não fumantes, que não infartaram nos últimos 6 meses e que não estavam grávidas. Foram excluídas as mulheres que solicitaram desligamento do estudo ou não participaram de alguma das avaliações. As voluntárias foram orientadas a manter o padrão alimentar. Foram mensuradas o índice de apnéia-hipopnéia (IAH), por meio do exame de polissonografia em domicílio, o peso e a estatura com o estadiômetro para posterior cálculo do IMC e a variável consumo de oxigênio foi avaliada por meio do teste cardiopulmonar do exercício. Posteriormente, as mulheres foram divididas em dois grupos: obesidade associada a SAOSleve/mod (> 5 e < 30 eventos/hora) n=16 e com SAOSgrave (IAH ≥ 30 eventos/hora) n=14. O teste de correlação de Pearson foi usado para avaliar a relação entre o IAH com o IMC, consumo de oxigênio, eficiência ventilatória e cardiovascular. O teste t de Student foi usado para verificar possíveis diferenças entre os grupos. O nível de significância aceito foi de p < 0,05. Resultados: o grupo SAOSgrave quando comparado ao grupo SAOSleve/mod apresentou menor consumo de oxigênio pico absoluto e relativo (p< 0,001), maior equivalente ventilatório de O2 (VE/VO2pico; p=0,004) e maior índice de função cardiovascular (∆HR/∆VO2; p< 0,01). Por outro lado, os grupos de mulheres com SAOSgrave e SAOSleve/mod não apresentaram diferença estatística quanto ao índice de eficiência ventilatória (VE/VCOslope), índice de função metabólica (∆VO2/∆WR; p=0,163) e pulso de O2 no pico do esforço (p=0,848). Houve correlação negativa entre o IAH com o VO2pico (r = -0,534; p=0,002) e correlações positivas entre o IAH e o ∆HR/∆VO2 (r=0,394; p=0,031) e entre o IAH e o VE/VO2 (r=0,445; p=0,013). Por outro lado, não se verificou correlação estatística entre o IAH e o VE/VCO2slope (r =0,021; p=0,909) e o IAH e o IMC (r=0,208; p=0,268). Conclusão: a gravidade da síndrome da apneia obstrutiva do sono pode reduzir a capacidade de exercício e representar um pior prognóstico cardiorrespiratório em mulheres com obesidade.