Resumo

A concepção de que o ensino-aprendizagem do xadrez está relacionado à melhora do desempenho acadêmico de estudantes estimulou projetos de pesquisa em vários países ao longo das duas últimas décadas. Nos últimos anos, ensino de xadrez, instrução musical e treinamento em memória de trabalho foram reivindicados como sendo capazes de treinar habilidades de domínio geral (por exemplo, raciocínio fluído/ inteligência) que, por sua vez, generalizam-se para outros aspectos cognitivos e habilidades acadêmicas (por exemplo, matemática). Assim, o objetivo desse trabalho é verificar o impacto do xadrez sobre as habilidades cognitivas de crianças de 8 a 10 anos, do 3o e 5o ano, por meio de escala de inteligência “Wechsler para crianças – Quarta Edição”. Foram selecionados 90 participantes inicialmente para o estudo e devido à pandemia do covid-19, que nos impediu de realizar parte do pós-testes, operamos com 54 participantes. Devido a outras exclusões técnicas, consideramos, ao fim, 45 alunos de 8 a 10 anos, cursando do 3o ao 5o ano do ensino fundamental. Os alunos foram divididos aleatoriamente em três grupos: “Grupo Xadrez”, “Grupo Jogos” e “Grupo Sem intervenção”. O “Grupo Xadrez” recebeu uma intervenção de 34 horas de aulas de xadrez, o “Grupo Jogos” recebeu uma intervenção de 34 horas de jogos, com ludo, dama, batalha naval, reversi e gamão e o “Grupo Sem intervenção” não recebeu nenhum tipo de intervenção. A pesquisa se baseou no método “experimento ideal” descrito por Gobet e Campitelli (2006), que propõe cuidados específicos, quanto à organização aleatória dos participantes, à inclusão de pré-teste e à pós-teste, dois grupos de controle, sendo apenas um Sem intervenção, diferentes professores e aplicadores e a não ciência dos participantes sobre o experimento e outras medidas de controle que adotamos. Os resultados mostraram que não houve evolução média geral no QI Total no “Grupo Xadrez” e no “Grupo Jogos” contrariando a hipótese inicial. Porém, quando analisados individualmente, os subtestes, notam-se algumas diferenças positivas significativas: o “Grupo Xadrez” apresentou resultados significativos nos subtestes “Cancelamento” e “Códigos”, confirmando parcialmente nossa hipótese. “O Grupo Xadrez” revelou resultados significativos superiores ao Grupo Sem intervenção no índice IOP e nos subtestes de Raciocínio Matricial na análise Two-way - U de Mann-Whitney; d de Cohen, também, corroborando parcialmente nossa hipótese. O “Grupo Xadrez” apresentou resultados significativos superiores ao “Grupo Jogos” nos: índices IVP na análise Three-Way-ANOVA e nos índices IOP e IVP na análise Two-way-Mann-Withney: d de Cohen nos subtestes de “Conceitos Figurativos” e Procurar Símbolos na análise Three-Way- ANOVA e nos subtestes de “Conceitos Figurativos”, “Aritmética”, “Completar Figuras”, “Semelhanças”, “Informação”, “Procurar Símbolos” e “Raciocínio Matricial” na análise Two-way U de Mann-Whitney; d de Cohen, outrossim, vindicando parcialmente nossa hipótese. Apesar de o estudo apresentar algumas limitações devidas às vicissitudes do ambiente escolar e à pandemia do covid-19, o “experimento ideal”, ainda com nossas melhorias, confirmou-se como um forte instrumento metodológico de pesquisa e os resultados confirmaram várias hipóteses iniciais de que o xadrez pode contribuir para desenvolver habilidades cognitivas.

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