Resumo
As variações na altura do arco longitudinal medial (ALM) do pé influenciam a biomecânica do tornozelo e multisegmentar dessa articulação, as quais podem estar relacionadas ao maior risco de disfunções nos membros inferiores (MMII). Os objetivos foram analisar a cinemática, coordenação durante a marcha e o desempeho muscular em mulheres adultas com diferentes alturas do arco longitudinal medial do pé.Trata-se de um estudo transversal com características descritivas e analíticas. A amostra foi constituída com n total de 105 mulheres adultas divididas em três grupos, grupo 1: (ALM – alto, n=35), grupo 2: (ALM – normal, n=35) e grupo 3: (ALM – baixo, n=35), classificados pelo índice de postura do pé (IPP-6), índice de altura do arco (IAA) e flexibilidade do ALM. Participantes realizaram avaliação em modo isocinético concêntrico a 30, 60 e 90 °/s (dorsiflexão/plantiflexão) do tornozelo, no dinamômetro Biodex System 4® e análise cinemática da marcha com um modelo multisegmentar do pé do Rizzoli Orthopaedic Institute (IOR) foot model. A técnica do vector coding foi utilizada para calcular os padrões de coordenação entre os segmentos do pé e a variabilidade da coordenação foi calculada a partir do desvio angular dos padrões da coordenação. Os dois grupos de pés, cavo e plano, demonstraram um déficit significativo no pico de toque/massa corporal em dorsiflexão a 60 °/s, pés cavos com Diff. Média=-3 N.m/kg; ω2p=0,06 e pés planos com DM=-1,1 N.m/kg; ω2p=0,06 quando comparado com os pés normais. O grupo pé cavo apresentou uma correlação negativa, r=-0,37 com intervalo de confiança (IC) 95 % [-0,63; -0,05], entre flexibilidade e pico de toque/massa corporal a 30 °/s em plantiflexão. Nos mapas de superfície 3D, o grupo pé normal demonstrou melhor desempenho muscular nas três velocidades. Diferenças cinemáticas na amplitude de movimento (ADM) durante a marcha foram maiores para o grupo pé plano para o retropé no plano frontal (P=0,007; R2=0,34), quando comparado ao grupo pé normal. Já o grupo pé cavo apresentou menor ADM no plano frontal (P=0,003; R2=0,12) do mediopé durante o contato inicial, quando comparado ao grupo pé normal. O padrão de coordenação entre os segmentos perna no plano frontal e retropé no plano sagital no grupo pé cavo apresentou diferença com significância (P=0,04; R2=0,55) em anti-fase durante o contato inicial, quando comparado ao grupo pé plano. Finalmente, foram identificadas diferenças entre os segmentos perna e retropé no plano frontal com maior variabilidade da coordenação para o grupo pé cavo (P=0,001; R2=0,12) durante o apoio final, quando comparado ao grupo pé normal e grupo pé plano. Os grupos pé cavo e plano apresentaram diferenças no desempenho muscular, no padrão e na variabilidade da coordenação quando comparados o grupo pé normal. Sugere-se que variações na altura do ALM influenciam negativamente o desempenho muscular do tornozelo, assim como parâmetros biomecânicos anormais durante a fase de apoio com associação de déficits em estruturas ativas e passivas.
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