Ancoragem Háptica em Paralisados Cerebrais
Por T. D. A. Costa (Autor), E. Mauerberg-decastro (Autor), S. C. M. Pacheco (Autor), F. L. Magre (Autor).
Resumo
O desenvolvimento motor atípico observado na paralisia cerebral acarreta desordens motoras complexas e, entre tantas, um deficitário controle postural. O sucesso do controle postural depende de propriedades musculares, articulares e dos sistemas sensoriais como a visual, vestibular e somatossensorial. Além destes, o toque háptico, um subsistema do sistema háptico, está envolvido nas atividades de manipulação manual, possibilitando a exploração de propriedades de objetos e, consequentemente a orientação e posicionamento dos segmentos corporais e do corpo como um todo no espaço. Diversos estudos enfatizam as contribuições das aferências hápticas para o controle da postura vindas da exploração de ferramentas rígidas e não rígidas. Entre as ferramentas não rígidas temos o sistema âncora, que visa manter a estabilidade via informação háptica por meio do manejo de um par de hastes flexíveis com cargas anexadas nas extremidades distais em contato com o chão. O presente estudo se propôs analisar se a deficiência neuromotora no controle postural da paralisia cerebral seria compensada pela integração da informação háptica. Participaram do estudo vinte indivíduos com paralisia cerebral (espástica hemiparética, diparética e atáxica). Na tarefa experimental, os participantes permaneceram em postura ortostática sobre uma plataforma de força nas seguintes condições: 1) com as âncoras e com visão; 2) com âncoras e sem visão; 3) sem as âncoras e com visão; 4) sem as âncoras e sem visão. Para todas estas condições duas superfícies de contato para os pés foram utilizadas a própria superfície da plataforma de força (estável) e o uso de uma espuma sobre a plataforma de força (instável). As hastes flexíveis do sistema âncora foram anexadas a células de carga que possibilitaram quantificar a força de puxada envolvida no manuseio do sistema âncora. Para análise das condições propostas utilizou-se a variável de trajetória total (Traj-total). Os resultados não apontaram diferenças na força de puxada entre as mãos direita e esquerda durante o manuseio das âncoras. A variável de Trajetória-total (Traj-total) do centro de pressão indicou maior redução na oscilação postural nas tarefas com âncora, particularmente quando a tarefa postural foi feita na superfície instável sem a visão. Dessa forma, observou-se que frente ao desafio das tarefas posturais propostas, com manipulação das informações visuais e somatossensoriais, os indivíduos com paralisia cerebral puderam beneficiar-se da exploração háptica possibilitada pelo sistema âncora pelo uso de ambas as mãos.