Resumo
Invoco para estar presente neste trabalho os “encantados”, para nos inspirar de modo sagrado. E convido-os, antes da leitura, a tomar um pouco da bebida tradicional do povo Tremembé, o mocororó (a bebida alucinógena, feita do caju azedo) para assim, adentrarmos o universo profano. O presente trabalho adentra a cultura indígena, mais especificamente entre os Tremembé da grande Almofala, no município de Itarema no estado do Ceará, onde realiza um estudo sobre a simbologia acerca do ritual do Torém. A compreensão de base fenomenológica desse estudo (MERLEAU-PONTY, 1994) permite compreender como os índios Tremembé sentem suas vivências com o Torém (o ritual sagrado e principal sinal diacrítico entre a etnia). O texto justifica sua importância como forma de atenuar os debates das pesquisas sobre as questões indígenas em Educação Física, onde temos um número escasso de pesquisadores e dando-se ainda que não há pesquisas sobre os Tremembé na área. Para tanto, neste trabalho dissertativo levantam-se os seguintes questionamentos: Quais são os símbolos que este ritual envolve? Quais sentidos estésicos são atribuídos pelos Tremembé em relação ao Torém? Quais sentidos e implicações simbólicas o ritual do Torém pode trazer a Educação Física? O estudo objetiva desvelar as reflexões simbólicas para a Educação Física no ritual do Torém. Além de identificar a estesia atribuída pelos Tremembé em relação ao ritual; e analisar quais sentidos o Torém pode trazer a Educação Física. A porta de entrada deste trabalho são as histórias vividas outrora por mim enlaçando-se com a continuidade de pesquisas acadêmicas desenvolvidas anteriormente. Utilizamos para a descrição do aprofundamento do relato histórico deste povo e sobre o ritual, as pesquisas dos autores Oliveira Júnior (1998; 1997), Gondim (2016; 2015; 2010; 2009), Valle (2005a; 2005b; 2004; 1993) e Messeder (2012). Já para uma compreensão sobre simbologia, sagrado e profano nos basearemos em Eliade (2010; 1998; 1991), mas para descrevermos de modo mais aprofundado o significado dos símbolos utilizamos os escritos de Chevalier e Gheerbrant (1994); nos remeteremos a conceituação de cultura e memória oral através de Zumthor (2010; 2007; 1993); já para compreendermos o conceito de ritual adentraremos as obras de Turner (2005; 1982) e Peirano (2003). E para embasar a fenomenologia e o conceito de estesia trazemos para o texto o autor Merleau-Ponty (2006; 1948/2004; 1945/1994). Desvela-se para a simbologia ritual a descrição das cenas, dos gestos, das emoções, da música, da linguagem, do figurino, da ornamentação e expressão corporal, e de outros símbolos que compõe o ritual a partir do relato de nove indígenas (entre cacique, pajé, lideranças, professores e uma índia). Investigamos assim, os símbolos no ritual pautando-se numa percepção como proveniência subjetiva do conhecimento, significando marcas de uma cultura de resistência. Tomando como ponto final a corporeidade deste processo e as implicações para Educação Física, instigando o debate para uma reflexão intercultural na área.