Resumo
Introdução: O câncer está entre as quatro principais causas de morte prematuras no mundo, sendo que no sexo feminino o tumor maligno de mama ocupa o primeiro lugar, correspondendo a 24,2% dos casos novos. Na tentativa de mudar este cenário, a política de controle do câncer tem avançado no diagnóstico precoce e nos tratamentos inovadores. Mas, associadas à terapeutica oncológica, surgem complicações que podem interferir no nível de atividade física e na funcionalidade das sobreviventes de câncer de mama. Objetivo: Identificar o nível de atividade física e descrever a capacidade funcional do membro homolateral à mastectomia de mulheres tratadas e sobreviventes de câncer de mama. Metodologia: Estudo realizado com 84 mulheres assistidas pelo Sitema Único de Saúde (SUS) em Aracaju/SE com, no mínimo, quatro anos após mastectomia. O nível de atividade física foi mensurado pelo International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) e, para avaliar a capacidade funcional do membro superior homolateral à cirurgia, foram mensuradas a amplitude de movimento (ADM) do ombro, a dinamometria escapu e aplicados os questionários Shoulder Pain and Disability Index (SPADI), o Disability of Shoulder, Arm and Hand Questionnaire (DASH) e o Tampa Scale for Kinesiophobia (TSK). A normalidade dos dados foi realizada através do teste de Shapiro-Wilks. As variáveis contínuas simétricas foram descritas através de média e desvio padrão; as assimétricas, através de medianas e intervalo interquartil; e as variáveis categóricas, através frequência absoluta e relativa. Para análise comparativa, as mulheres foram divididas de acordo com o nível de atividade física. Para testar a hipótese de igualdade nas medidas de tendência central foi aplicado o teste de Mann-Whitney e seus tamanhos de efeitos mensurados por meio de correlação Rank bisserial. A hipótese de independência entre variáveis categóricas foi testada por meio do teste Qui-Quadrado de Pearson ou Exato de Fisher e seus tamanhos de efeitos mensurados por meio do h de Cohen. Foram calculadas razões de chances brutas e ajustadas por meio de regressão logística múltipla. O nível de significância adotado foi de 5% e o software utilizado foi o R Core Team 2020. Resultados: Mesmo após cinco anos do tratamento oncológico, as sobreviventes, que eram em sua maioria mulheres com mais de 50 anos e com sobrepeso, apresentavam nível de atividade física entre pouco ativa ou sedentária (69%), com limitação da amplitude de movimento (90,5%) e, consequentemente, da capacidade funcional do membro homolateral a cirurgia, associado à presença de dor, fraqueza muscular, sintomas no braço e cinesiofobia moderada. Além disso, foi possível observar que cada unidade acrescida das escalas SPADI total e SPADI dor era responsável por um aumento em 7% (p <0,001) e em 4% (p< 0,001), respectivamente, na chance de ser pouco ativo. Conclusão: A associação entre essas sintomatologias e as características pessoais das mulheres pode ser considerada como potenciais barreiras para a atividade física e facilitadores para as atitudes sedentárias, alertando sobre a importância do conhecimento e manejo destes sintomas, no intuito de direcionar melhor a abordagem das sobreviventes de câncer de mama.