Anti-heróis Cotidianos: a Frustração Frente às Redes Sociais, o Caso do Mundial de Futebol de 2018
Por Fernando Renato Cavichiolli (Autor), Emilia Devantel Hercules (Autor), Matheus Pereira Rodrigues (Autor).
Em XV Congresso de História do Esporte, Lazer e Educação Física - CHELEF
Resumo
O esporte é em fenômeno social de impacto, uma vez que, espelha muitas vezes a organização do modelo social, tornando-se matéria-prima dos meios de comunicação em geral (RUBIO, 2001). Esportistas ganham destaque como agentes deste fenômeno social, têm seus feitos e suas imagens comparadas a heróis mitológicos (RUBIO, 2001). Conceito esse que se apresenta conectado ao seu oposto, o anti-herói, proezas heroicas estão relacionadas com a realização de tarefas árduas, mas quando se fracassa em alguma delas, observa-se a derrocada desenfreada dos atletas, desencadeada pela mídia e pelas redes sociais, ações pautadas possivelmente em pretensões ilusórias relacionadas a seus feitos (CAMPBELL, 1990). Em tempos de Copa do Mundo de Futebol, quando há uma derrota, tende-se a apontar um vilão, um humano que sofre suas penitências pela falha cometida. No mundial de 2018 muitos foram heróis e anti-heróis, mas, esse estudo tem por objetivo analisar a repercussão midiática, com ênfase nas redes sociais, sobre a escolha de Fernandinho como o vilão brasileiro em 2018. A pesquisa documental foi realizada a partir de reportagens apresentadas durante o mundial e após a eliminação da seleção brasileira. A busca foi realizada em sítios eletrônicos e compôs-se por: restrições à palavra “Fernandinho”, além de visitas ao perfil do atleta nas redes sociais, o que gerou um banco de dados com 51 reportagens, separadas pelas manchetes que continham informações relevantes ao estudo. Observa-se que há a predominância de palavras que desqualificam a atuação do jogador de maneira geral, tudo que se fez até o exato momento se apaga frente o ato da falha. Relaciona-se as palavras: “vilão”, “decepciona mais uma vez”, “culpado”, como algumas das denominações frequentes que indicam a escolha por esse atleta como anti-herói da derrota brasileira. Carreiras esportivas, são marcadas por ocasiões de fracasso, esses fatos demonstram o ídolo na sua humanidade, nas suas falhas e na sua suscetibilidade (HELAL, 2001). No caso analisado, observa-se que as consequências da atuação desencadearam uma invasão ao perfil do atleta nas redes sociais. A sociedade manifesta-se por insultos a sua performance esportiva, além de ofensas pessoais com cunho de intolerância e ódio. Conteúdos racistas e antiéticos foram aos extremos, causando repúdio e demonstrando o poder do controle cibernético a que apresenta-se a sociedade atual, na qual, os processos de civilidade ainda escondem as tragédias humanas (KARNAL, 2017). O anti-herói é a demonstração fecunda do que se teme e por isso é afrontado com violência. O caso do anti-herói brasileiro mostrou que socialmente aceita-se o sucesso daquele, mas não admite-se as falhas do mesmo. As redes sociais imprimem sob suas criações - heróis – a medida do que lhes é permitido ou não, assim a imposição desses meios demostra que o “perdedor”, sofre punições até mesmo incabíveis a qualquer vilão mitológico.
Referências
CAMPBELL, J. O poder do mito. São Paulo: Athena, 1990.
HELAL, R. Mídia, construção da derrota e o mito do herói. In: HELAL, R; SOARES, A. J.; LUVISOL, H. A invenção do país do futebol: mídia, raça e idolatria. Rio de Janeiro: MAUAD, 2001. p. 149-167.
KARNAL, L. Todos Contra Todos – o Ódio Nosso de Cada Dia. São Paulo: Leya, 2017.
RUBIO, K. O Atleta e o mito do herói: o imaginário esportivo contemporâneo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.