Integra

   Passados os momentos de elevados estados emocionais de jogadores, dirigentes e torcedores da seleção brasileira de futebol após a derrota por 7 x 1 para a equipe alemã, vou fazer um exercício crítico à luz da psicologia, com as informações que tenho através das mídias e as declarações da equipe técnica que dirige a seleção brasileira.

   Nas entrevistas o técnico Felipe Scolari afirma que não compreende o que aconteceu aos jogadores durante o jogo contra a Alemanha, pois haviam treinado para enfrentar os adversários e que cada atleta tinha claro como deveria atuar. Afirmou que a explicação para este comportamento foi um “apagão” nos jogadores, o qual durou de 10 a 20 minutos que fez com que estes ficassem perdidos em campo. Muitos jornalistas e torcedores criticaram e tentaram ridicularizar a explicação do técnico como um “apagão”. Será que este comportamento é possível em atletas do esporte de alto rendimento, profissionais que treinam intensamente diariamente? A seguir pretendo explicar esta possibilidade à luz da psicologia, com os poucos elementos que tenho.

   O comportamento do “apagão” afirmado pelo técnico Scolari é sim possível.  Em situações de elevado estado emocional de ansiedade e estresse psicológico é possível ocorrer o chamado “bloqueio cognitivo”, que os estudantes nas provas chamam de “deu branco” , esqueci tudo que havia estudado. Os elevados níveis de estresse psicológico e ansiedade podem gerar sintomas como: bloqueio cognitivo, confusão mental, dificuldades de atender a ordens, descontrole emocional, choro, etc. Para quem acompanhou a Copa ficou claro que os atletas se sentiam bastante pressionados por resultados positivos e pela grande expectativa do povo brasileiro. Esta alta expectativa já tinha gerado comportamentos de descontrole emocional em jogo anterior na decisão por pênaltis, quando vários jogadores choraram. Portanto a afirmação do técnico Scolari do “apagão” é procedente, contudo ele não consegue explicar a razão do acontecido, pois não é especialista em psicologia e psicologia do esporte, apesar de tentar em alguns momentos desejar atuar como psicólogo, segundo palavras suas.

  Para concluir, o chamado “apagão”, bloqueio cognitivo na verdade, é um acidente psicológico possível e que afeta as pessoas das mais diversas idades e nos mais diversos contextos. Claro que as expectativas dos dirigentes e técnicos por um resultado único, serem campeão, assim como ações de motivação que colocavam responsabilidade dos jogadores pela felicidade do povo brasileiro pode ter gerado o processo psicológico do bloqueio cognitivo.  

   Em tempo, como hipótese técnica e científica esta pode ser refutada em qualquer tempo, uma vez para que fosse possível fazer afirmações mais consistentes seria necessário estar vivendo “in loco” o momento do acidente com a equipe brasileira de futebol, como também ter sido possível fazer a escuta psicológica dos atletas.

Prof. Dr. Antonio Roberto Rocha Santos
   Psicólogo Clínico e do Esporte