Resumo
Esta pesquisa analisou a ação sindical de jogadores de futebol no Brasil, no período pós Lei Pelé. Para tanto, utilizamos três estratégias de pesquisa: (i) a análise da influência dos dispositivos estruturais e ideológicos relacionados a este mundo do trabalho do futebol na ação sindical; (ii) a descrição e análise do modelo de sindicalismo adotado pelo SAPESP (Sindicato de Atletas Profissionais do Estado de São Paulo), com base na sua plataforma, ideologia e na forma de se relacionarem e de atingir seus associados; e (iii) análise de outras formas de ação coletiva entre jogadores de futebol que confrontassem aquelas adotadas pelos sindicatos oficiais da categoria, em especial, a emergência do Bom Senso F.C., estratégia esta que intentou um olhar para a ação sindical que não se restringisse apenas a entidade representativa. Neste sentido, executamos um levantamento documental nos sítios eletrônicos do SAPESP e da FENAPAF, bem como de periódicos esportivos de grande circulação. Além disso, realizamos entrevistas semiestruturadas com dirigentes dos sindicatos de atletas do estado de São Paulo e do Rio Grande do Sul, atletas integrantes do Bom Senso F.C. e atletas em atividade que representavam a base de um desses sindicatos. Analisamos esses materiais apoiados em produções sobre o sindicalismo brasileiro e o sindicalismo no futebol. Nossa pesquisa demonstrou que a atuação do SAPESP e da FENAPAF nas últimas duas décadas têm se restringido a questões pontuais de defesa de alguns direitos dos trabalhadores, com uma atuação mais voltada aos jogadores de clubes pequenos. Do ponto de vista funcional e estrutural, o SAPESP opera uma separação entre categoria e sindicato, que tem servido para justificar os limites das ações da entidade, bem como dar liberdade para esta agir sem a necessidade de anuência da base. Do ponto de vista ideológico, o SAPESP e a FENAPAF têm feito críticas pontuais para a gestão do futebol brasileiro, apostando numa estratégia de diálogo e não de enfrentamento. Percebe-se também que o SAPESP pouco tem feito para mobilizar a categoria, de modo que suas conquistas têm sido obtidas privilegiando a esfera jurídica e da negociação. Em resposta a essa forma de atuação e como parte de uma conjuntura crítica brasileira, em 2013, nasceu o movimento Bom Senso F.C., voltado aos atletas insatisfeitos dos grandes clubes. Ele surgiu com uma natureza sindical, mas expandiu seu raio de atuação, caracterizando a formação de um movimento social no futebol brasileiro. Apesar de sua organização ser centralizada, o Bom Senso F.C. representou um contraponto ao discurso do SAPESP, demonstrando ser possível a organização dos jogadores de futebol para além dos sindicatos oficiais. Apesar de seu caráter de enfrentamento político, cuja atuação difere-se da dos sindicatos de atletas, seu arco de alianças é amplo e o desfecho ainda é incerto, de modo que sua natureza ideológica e funcional ainda não são possíveis de serem vislumbradas.