Resumo

O tenis já era disputado desde o principio dos anos 1800, como o jogo da pela.

Integra

Do jogo da péla ao tênis atual

Os jogos de bola estão presentes em todas as culturas e em todas as épocas. Galeno, o famoso médico grego, recomendava os jogos com bola para fins higiênicos e até mesmo escreveu um tratado específico sobre “o jogo da pequena bola”. Os jogos de bola, na Grécia, já aparecem nos poemas homéricos.

Nos séculos XIV, XV, e XVI os jogos de bola destacaram-se mais que os outros, fundindo-se às manifestações folclorísticas, no novo contexto das estruturas renascentistas.

OLIVEIRA MARQUES ao referir-se às distrações na Idade Média em seu “A Sociedade Medieval Portuguesa”, faz referência ao “jogo da péla”, como pertencente ao campo dos desportos violentos. Conforme esse autor, D. Duarte não louvava o jogo da péla, antes pelo contrário o incluía na lista dos jogos que entretinham a mocidade da sua época, em detrimento dos exercícios de cavalaria.

Já D. João I encarava o jogo da péla como muito útil para o treino das armas: “é hoje em neste dia alguns, quando estão folgados e lhes é mister fazerem em armas, jogam alguns dias a péla, porque este jogo lhes faz tender os membros”.

Não possuímos descrição deste jogo de bola, que deveria ser de arremessos, talvez com o intuito de derrubar qualquer obstáculo ou simplesmente de atingir um ponto distante.

Outro autor português, FORTUNADO DE ALMEIDA, ao referir-se aos costumes e aspectos sociais falando dos jogos desportivos e passatempos diversos, faz referência a um jogo, que seria o jogo da péla: “Nas ruas e outros lugares públicos concorriam muitos eclesiásticos e seculares a jogar e a ver jogar a ‘bola ou mancaes’.

Em 1591, o Bispo de Coimbra, D. Afonso de Castelo Branco, nas suas constituições, proibia aos eclesiásticos semelhantes exibições; e proibia em especial o jogo da pela nos jogos públicos, “principalmente despindo-se em calças e gibão, como alguns com pouco respeito de seu estado fazem”.

No século XVIII chamava-se a este jogo o “jogo dos paus”. “Mancais” era o nome que no século XVI se dava aos paus destinados a ser derribados com a bola. Em Lisboa, jogava-se a “péla” num pátio descoberto e público em cuja porta esteve este dístico latino:

"Lude pede, insulta, suda, contende, labora;

Si tibi contingat perdere, solve, tace".

Jogavam seis parceiros, três de cada parte, com “péla” (bola) de couro, que se enchia de ar com uma seringa.

Jogou-se a princípio com a palma; no início do século XVIII, introduziu-se, em Portugal, o uso francês de jogar com raqueta.

Na França, particularmente, a bola (de dimensões maiores da normal), nascido no tardo-medievo, como instrumento de contenda incruenta, torna-se momento lúdico e agonístico, aberto a todos.

Os jogos mais conhecidos são a paume, o pallone, a soule, a crosse, aos quais se seguiram, na Itália, o calcio-fiorentino, o pallone al bracciale, a pallacorda, a palla al vento, a palla-maglio, o tamburello.

A paume (jeu de paume) consiste em bater a bola com a mão e substituiu os ludus pilae cum palma romano. Conhecido já no século XII foi jogado melhor no período sucessivo, até dar vida ao atual tênis.

Cabe lembrar que Antonio Francisco Gomes, em 1852, propunha além da ginástica, os exercícios de natação, esgrima, dança, jogo de malha e jogo da pella para ambos os sexos.

 

E no Maranhão?

Dunshe de Abranches, referindo-se ao seu tio, Frederico Magno de Abranches – o Fidalgote – em seu festejado romance histórico “A Setembrada” (movimento revolucionário ocorrido em 1831), relembra que

"... os dois namorados [Frederico e Maricota Portinho] tiveram assim, momentos felizes de liberdade e de alegria, fazendo longos passeios pelos bosques, em companhia de Milhama, ou passando horas inteiras a jogar a péla de que o Fidalgote era perfeito campeão”. (grifos meus)

Dejard MARTINS (1989) em seu "Esporte - um mergulho no tempo" registra que o nascimento das atividades esportivas em Maranhão se dá pelas mãos de JOAQUIM MOREIRA ALVES DOS SANTOS - Nhozinho Santos - e do clube esportivo e social fundado na Fábrica "Santa Izabel", o FABRIL ATHLETIC CLUB - FAC - para a prática do "foot-ball association". Também foram praticados o Tênis, o Cricket, o Crockt, o Tiro, e o Atletismo:

"A direção do Fabril Athletic Club avisa aos seus sócios que ainda não tiraram convite, que os procurem hoje, até 10 horas da noite, na sede do mesmo club". (O MARANHÃO, Quinta feira, 24 de outubro de 1907)

Nhozinho Santos, ao regressar da Inglaterra, em 1905 - onde fora estudar para técnico em indústria textil, na cidade de Liverpool -, tornara-se um ardoso praticante do "foot ball", e não se esquece de trazer em sua bagagem  os apetrechos necessários à prática desse esporte: chuteiras, apitos, bolas, etc. Mas não se praticava só o "foot ball".  Também se jogava o tênis, todos os dias, depois das quatro da tarde, sendo construída uma quadra regulamentar e "lá os amantes dessa prática deleitavam-se nesse elegante esporte".

Dentre os amantes do tênis, vamos encontrar Aluísio Azevedo. Apesar de suas andanças pelo mundo – por essa época já havia abraçado a carreira diplomática -, vamos encontrá-lo, em 1907, na sua querida São Luís, participando do grupo de Nhosinho Santos, quando da inauguração do Fabril Athletic Clube.

Muito embora seu biógrafo o dê como tendo assumido seu posto em Nápoles no mês de março de 1907 (MÉRIAN, 1988: 618), vamos encontrá-lo participando da partida inaugural do futebol no Maranhão, em 27 de outubro de 1907. Seu "team", o "Red & White" - formado por João Alves dos Santos; Izidoro Aguiar, Alcindo Oliveira; Afonso Guilhon, José Ramos Bastos, Antero Novaes, Ernesto Dobler, Carlos Neves, Manoel Alves dos Santos e Antero Serejo -, ganhou por 2 x 0, do "Black & White", ambos, equipes internas do Fabril Athletic Club (MARTINS, 1989)

          Aluísio não praticava só o "foot-ball association", certamente aprendido durante sua estada na Inglaterra, onde permaneceu de 1904 a março de 1907. Nesse mesmo mês, estava em São Luís, e o encontramos participando de uma partida de "law-tennes", defendendo as cores do "Red & White".

Ainda no ano de 1907, o Euterpe passou a difundir outras atividades esportivas, como o "tiro ao alvo", tênis, o tênis de mesa (ping-pong), etc. Em 31 de dezembro de 1910, o Euterpe fechou as portas, com seus antigos associados fundando, em seguida - 1911 - o Casino Maranhense, que continuou com a promoção de festas dançantes, palestras e as competições de  bilhar e do tênis de mesa (ping-pong).

Quando este clube encerra suas atividades, em 1910, em seu lugar nasce o Casino Maranhense (1911), que passa a oferecer as mesmas atividades esportivas, dentre elas, o Tênis, praticado, provavelmente, na “quadra dos Inglês”, conforme lembra Cláudio Vaz dos Santos -  o Cláudio Alemão – nascido na Rua Montanha Russa, em 1935; lembra que, quando garoto e começa a praticar esportes, num campo existente na hoje Av. Beira-Mar, refere-se à “quadra de tênis dos Ingleses”, em entrevista ao autor sobre a vida do Prof. Dimas:

“L - Só uma informação: aquele campo foi construído por volta de 1915, por Gentil Silva quando fundou o 11 Maranhenses, na época, na Beira – Mar

C – Essa eu não acompanhei, ali era uma matagal que tinha a quadra de Tênis dos Ingleses....

L – Foi o Luso Torres, que era o prefeito de São Luís daquela época que deu terreno paea construção de um campo de futebol ...

C – Com essa aí eu vou melhorar os meus conhecimentos... é que eu nasci na Montanha Russa, eu nasci naquela casa na rua Newton Prado 22 ( vinte e dois) eu e meu irmão nascemos ali.”. (VAZ DOS SANTOS, Cláudio. Entrevista).


 

BIBLIOGRAFIA

ABRANCHES, Dunshe de A SETEMBRADA - A REVOLUÇÃO LIBERAL DE 1831 EM MARANHÃO - romance histórico. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1970.

BRASIL, CBAt. ATLETISMO - REGRAS OFICIAIS. Rio de Janeiro :  Palestra, 1989. Bloch, 1974.

CUNHA JÚNIOR, Carlos Fernando Ferreira da. A produção teórica brasileira sobre educação physica/ gymnastica no século XIX: questões de gênero. In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSCA, VI, Rio de Janeiro, dezembro de 1998. COLETÂNEA... . Rio de Janeiro : Universidade Gama Filho, 1998, p. 146-152.

MARTINS, Dejard. ESPORTE - UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís :   SIOGE, 1989.

O IMPARCIAL, São Luís, 29 de outubro de 1907, p. 5

"O MARANHÃO":

Fabril Athletic Club. São Luís, 24 de outubro de 1907, no. 151.

Inauguração do Foot Ball. São Luís, Segunda-feira, 28 de outubro de 1907, no. 154.

Fabril Athletic Club. São Luís, 25 de novembro de 1907, no. 177.

Aprendizes Marinheiros. São Luís, quinta-feira, 26 de dezembro de 1907, no. 202.

Carnaval. São Luís, Segunda-feira, 24 de feveriro de 1908, p. 2, no. 251.

Fabril Athletic Club. São Luís, 31 de março de 1908, no. 281.

Fabril Atlhetic Club.São Luís, 23 de maio de 1908, no. 326.

Fabril Club. São Luís, Segunda-feira, 08 de junho de 1908, no. 339.

Programma da Matineé Sportiva a realizar-se em 27 do corrente mez no F. A. Club. São Luís, sabado, 26 de setembro de 1908, no. 426

Fabril Atlhetic Club. São Luís, Segunda-feira, 28 de setembro de 1908, no. 430 (?).

F. A. Club. São Luís, Segunda-feira, 16 de novembro de 1908, no. 471

Fabril Athletic Club. São Luís, 30 de janeiro de 1909, no. 531

Maranhense Foot-ball Club. São Luis, Sexta-feira, 05 de fevereiro de 1909, no. 536.

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VIEIRA E CUNHA, Manuel Sérgio; FEIO, Noronha. HOMO LUDICUS - ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA  CULTURA PORTUGUESA. vol. 2. Lisboa : Compendium, (s.d.). (Coleção     Educação Física e Desportos 13.)