Resumo
O “boom” da obesidade, seja nas estatísticas das principais organizações de saúde no mundo ou em informações circulantes, revela uma forma de preocupar-se com o corpo obeso inédita até então e produz na contemporaneidade um novo higienismo. Uma inquietação que mobiliza toda sociedade, mas que também regula condutas e desejos individuais. A obesidade transformou-se em problema biopolítico e com isso as intervenções sobre ela tornaram-se uma forma de governar a vida no sentido foucaultiano. Intervenções que se aplicam tanto na materialidade do corpo, através das inúmeras práticas corporais que o fazem perder calorias e derramar suor, como também em sua subjetividade, ao introjetar sobre ele o peso na consciência em comer chocolate e beber refrigerante. Uma guerra contra gordura corporal que utiliza como principal arma a informação e como artimanha a “fechada de cerco”. Cercamse todos os espaços e ocupam-se os locais de discurso responsáveis agora por uma biopolítica informacional. Uma forma de governo possibilitada pela passagem, descrita por Gilles Deleuze, das sociedades disciplinares às sociedades do controle articulada à noção de risco para saúde. Nesse contexto, uma alimentação saudável e a prática de atividade física tornaram-se a lição mais urgente a ser aprendida pela sociedade. Tarefa esta que será incumbida à instituição escolar e que dentro de seu desnutrido discurso encontrará legitimação. A escola transforma-se em um espaço privilegiado de combate a obesidade e este se torna o problema de pesquisa desta dissertação. A partir dos programas de promoção da saúde, na e através da escola, realizados pela Prefeitura Municipal de Curitiba, analiso como se constitui/dissemina/fixa contemporaneamente o combate a obesidade como forma de educação dos corpos, regulação da saúde e auto-governo.