Aprendizagem em volibol: Uma análize comparativa das estratégias metodológicas, tradicional e minivolibol, em escolares
Por Sandra Bellas de Romariz (Autor).
Em III EnFEFE - Encontro Fluminense de Educação Física Escolar
Integra
Infelizmente, vários são os fatores que se contrapõem ao ensino do volibol escolar. Dentre eles podem ser citados, por exemplo, a dificuldade administrativa e de material, a limitação em tempo e quantidade de aulas específicas, a falta de motivação, face ao imediatismo dos alunos (Romariz e Silva, 1998) e as próprias limitações que o aparato técnico necessário ao jogo impõem ao seu aprendizado. Este último, normalmente, tido como um dos mais relevantes em termos de dificultar o processo de aprendizagem do jogo pelas crianças e pré-adolescentes, em virtude da desproporção entre apêndices corporais destes e os objetos componentes da ambiência de aprendizagem, tais como: rede alta, dimensões amplas da quadra, tamanho e peso da bola e outras variáveis materiais interativas no desenvolvimento do jogo. Estas dificuldades se refletem normalmente, sobre o comportamento dos escolares, muitas vezes, mascarando o desenvolvimento de potenciais atletas, quase sempre em virtude da perda de períodos críticos de aprendizagem que passam sem serem aproveitados. Esta perda é um fato de ocorrência universal (Meinel, 1984), quase sempre irremediável.
Analisando estas dificuldades no ensino do volibol, Carvalho (1995) destaca que, o voleibol é um esporte extremamente difícil de se praticar. O que certamente leva à conclusão de que todos os gestos técnicos do volibol, para serem utilizados corretamente e de uma maneira eficaz durante o jogo, devem ser estudados e aprendidos pelos métodos apropriados e não deixados á imaginação e á inspiração de cada um (Santos, 1997). Para vários especialistas e pesquisadores, devido ao aprendizado incompetente de tais fundamentos, muitos dos atletas que chegam ao nível de profissionalização enfrentam sérios problemas de performance devido à automatização de erros adquiridos na fase de aprendizagem.
Diante do quadro de dificuldade operacional que a ambiência do ensino de volibol normalmente apresenta para o aprendiz, várias estratégias técnicas têm sido postas em prática, dentre as quais uma que mais se tem destacado é a que se operacionaliza através das adaptações de tipo de material de prática, regras e formato metodológico normalmente identificado por "Metodologia do Minivolibol" que oferece uma das mais apropriadas alternativas à prática do jogo, e portanto, podendo beneficiar o aprendizado dos seus fundamentos, fator imprescindível ao desenvolvimento hábil-motor específico.
O trabalho desenvolveu-se sob forma de pesquisa experimental simples, de grupos equivalentes. A amostra definida para o presente estudo foi composta por dois grupos, formados propositalmente de uma população específica à natureza do estudo. A população da qual a amostra foi extraída caracterizou-se por indivíduos do sexo feminino, com idade entre 10 à 12 anos, sem conhecimento prático sobre os fundamentos do volibol, matriculados na quinta série do ensino fundamental, na Escola Estadual Aurelino Leal, localizada em Niterói RJ. Cada grupo foi composto por vinte dois indivíduos com as características acima definida (sexo, idade, e sem experiência anterior no esporte).
Os grupos foram montados por divisão intencional causal, de acordo com os resultados individuais apresentados pelas alunas, na anamnese, nos testes de avaliação física de resistência muscular localizada, aceleração, agilidade, coordenação e potência e nos testes de proficiência motora, de forma que os dois grupos ficassem equivalentes nas suas médias de resultados.
Para o início dessa pesquisa foram excluídos através dos pré testes de proficiência motora, os indivíduos que apresentavam conhecimento prático das habilidades técnicas do voleibol e/ ou através da anamnese os maiores de 12 anos e menores de 10 anos, ou ainda, os portadores de qualquer tipo de deficiência física, que pudesse comprometer ou que torna-se um impedimento para a aprendizagem motora. Foram excluídos também, ao término do tratamento, os alunos com menos de 75% de freqüência nas aulas.
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados no desenvolvimento deste estudo, consistiu de uma ficha de anamnese, uma ficha de coleta de dados dos resultados individuais da capacidade física, uma ficha de coleta de dados dos resultados individuais da proficiência motora, uma ficha de chamada, um anedotário e de vários materiais de prática pertinentes a prática do jogo de volibol e para os testes físicos específicos.
O procedimento experimental constituiu-se na ministração de aulas de Educação Física da modalidade Volibol, avaliações das capacidades físicas (teste de quatro cordas, régua, Sangent Jump , burpee, vai e vem, flexão e extensão de braços, corrida de 30 metros e abdominal) e das habilidades motoras através do teste quantitativos de saque e do teste de rebatidas repetidas de Hussell Lange e da avaliação qualitativa elaborada pela autora. O cronograma do trabalho constou de um total de 30 aulas de 50 minutos cada, divididas da seguinte forma: duas aulas para a anamnese, quatro aulas para os pré testes de capacidade física e proficiência motora, 20 aulas práticas de volibol e 4 aulas para o pós teste.Essa motivação apresentada pelo grupo, converge para a natureza do material de prática, ou seja, da estrutura ambiental favorecendo muito mais os alunos do grupo com prática do Minivolibol, evidenciando sistemático e incontestável bom humor, aprovação das aulas, participação mais coletivas em termos sociais, lidando melhor com o fracasso e maior criatividade.
Tudo leva a crer que o material ajustado ao tipo físico da criança na prática do Minivolibol, permite além de outras facilidades, uma maior amplitude de interações "corpo-objeto" que certamente soma-se para o desenvolvimento de maiores referências para o jogo propriamente dito, bem como para a "estruturação de base" dos fundamentos em si. Logicamente, estes aspectos não podem ser comprovados aqui. Mas de acordo com uma quantidade de teorias em aprendizagem motora (exemplo a de processamento de informações), uma maior gama de feedbacks reforçadores devem ter ocorrido, em decorrência das ações corretas (tentativas corretas) que o Minivolibol, em comparação à metodologia tradicional, permite mais ao aprendiz realizar.
Ainda que as conseqüências da maior "vivência específica" proporcionada pelo Minivolibol não possa ser avaliada em base na presente pesquisa, teoricamente as mesmas tendem a ser benéfica para o aprendizado hábil motor em crianças, justificando uma interpretação de que neste sentido, esta estratégia metodológica, pode ser mais proveitosa para o aprendiz de volibol também.
Assim sendo, apesar da equivalência em aprendizagem resultante da aplicação das duas estratégias de ensino, poder-se-ia afirmar que tendo em conta os valores sócios educativos do esporte, a estratégia do minivolibol distanciou-se, em efetividade, da forma tradicional de ensino utilizado na pesquisa em pauta. A ambiência adaptada às condições físico-orgânicas específicos parece ter contribuído, em muito, para a satisfação demonstrada pelas crianças praticantes do Minivolibol durante as tarefas ensinadas. Este fator, por si só, poderia justificar uma possível escolha desta metodologia sobre outra qualquer, uma vez que o favorecimento à uma constante motivação observada nos alunos do Minivolibol tende a ser bastante possível e esperada.
A motivação é sem dúvida um dos maiores reguladores do processo ensino-aprendizagem, e a felicidade no aprender, a chama que fornece o clima necessário ao nível motivacional adequado àquele processo.
Nota:
O trabalho foi realizado na Universidade Gama Filho
Referências Bibliográficas
Abreu, Ronaldo C. (1993). Análise do fenômeno de drop out em nadadores de 12 a 15 anos de ambos os sexo, no Estado de Minas Gerais. Tese de mestrado apresentada a Universidade Minas Gerais, 35-46.
Baeker, Ingrid M.(1984 dez). Método parcial e método global: um estudo comparativo da aprendizagem do quipe de cabeça no solo e na saída da barra fixa em sublance, Kinesis, especial. 63-80.
Beek P. J. & SANTVOORD, A. A. M.Van. (1992). Learning the cascade juggle: a dynamical systems analysis. Journal of Motor Behavior. 24 (1), 85-94.
Bento, João B. (1987). O voleibol na escola. Livros Horizonte.
Bento, Jorge O .( 1989). A criança no treino e desporto de rendimento. Kinesis, 5(1): 9-35.
Bernsten, N.A. (1967). The coordination and regulation of movementes. Oxford: Pergamon Press.
Betti, M. ( 1992). Ensino de 1ª e 2º grau: Educação Física para quê? Revista Brasileira de Ciência de Esporte, 13(2): 282-287.
Bohme Maria Tereza S. (1993). Aptidão física - aspectos teóricos. Revista Paulista de Educação Física., São Paulo, 7 (2): 52-65, jul/dez.
Borsari, José R.(1989). Voleibol: aprendizagem e treinamento. Um desafio constante. São Paulo: EPU.
Borsari, José R.; JORDANO, Ivo; BON, Thales & ROSE Jr, Dante. (1980). Educação física da pré escola á universidade. São Paulo: EPU.
Britos, Ss. P. (1986). Psicologia da aprendizagem centrada no estudante. 2ª editora. Campinas: Papirus.
Choschi & Tani, G. (1983). Stable system and adaptive systen in motor learning. In Japanese Association of Biomechanics. The sciense of movementv. Tokyo: kyorin.
Darido, Suraya C. & BONFOGO, Daniela (1993). Efeitos do método global e parcial na aprendizagem do basquetebol. Kinessis, 12. 29-42.
Dietrich, K. & Durrwachter, Gerhard (1984). Os grandes jogos: metodologia e prática. Rio de Janeiro: Ao livro técnico.
Durrwachter, Gerhard.(1984). Voleibol: treinar jogando. Rio de Janeiro: ao Livro técnico.
Faria Jr, Alfredo G & CORRÊA, Eugênio S. & BRESSANE, Rijelaine S. (1987). Prática de ensino em educação física - estágio supervisionado. Guanabara RJ. 53- 61.
Fereira, Mônica. S. (1996). Do prazer de brincar ao prazer de aprender. Motrivivência - O jogo e o brinquedo na educação física. VIII (9), 180-185.
Fleck Steven & Junior, Aylton J. F.( 1997). Riscos e benefícios do treinamento de força em crianças: novas tendências. Revista Brasileira de Ativida-de Física e Saúde. 2(1), 69-75.
Flinchum, Betty M. (1975). O desenvolvimento motor da criança. Rio de Janeiro: Interamericana LTDA. (Tradução ).
Fridrik, Ary R. (1985 abril). Utilização de material diversificado na aprendizagem dos principais fundamentos técnicos do volibol recreativo. Tese de mestrado, Universidade Federal de Santa Maria.
GRECO, Pablo J. & BENDA, Rodolfo N., (1996). Aprendizagem motora e treinamento técnico: conceitos e perspectivas. Motus Corporis .III (5) .43-56.
Grehaigne, Jean F. and GODBOUT, Paul (1995). Tatical knowledge in team sports from a constructivist and cognitivist perspective. Quest, National Association for Physical Education in Higher Education. 47, 490-505.
Guedes, Dartagnan P. & GUEDES, Joana E.R.P. ( 1996). Associação entre variáveis do aspecto morfológico e desempenho motor em crianças e adolescentes. Revista Paulista Educação Física, São Paulo, 10 (2): 99-112.
Guilherme, A. (1983). Voleibol a beira da quadra. São Paulo. Hemus Editora.2.
Jesus, Joaquim F.(1995 maio). Estágios de aprendizagem motora e suas implicações para o ensino de habilidades motoras. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. 16 (3): 191-195.
Knapp, B. (SD) Desporto e motricidade . Gráfica portuguesa 1500 Lisboa.
Lemos, Ailton S. (1996 nov-dez). Voleibol escolar. Sprint Magazine. 87.4-8.
Maggil Richard A. (1984). Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Blucher livro.
Manoel, Edison J. (sd). Aprendizagem motora: o processo de aquisição de ações habilidosas. As ciências do esporte no Brasil. Campinas, SP: Editora Autores Associados, 103-131.
Marins, João C.B. & GIANNICHI, Ronaldo S. (1996). Avaliação & prescrição de atividade física. Rio de Janeiro: Shape.
Mathews, Donald K. (1980). Medida e avaliação em educação física. Rio de Janeiro: Ed. Interamericana.
Meinel, Kurt & SCHNABEL, G. (1984). Motricidade II o desenvolvimento motor do ser humano. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico.
Miranda, Renato (1994). Motivação: energia da aprendizagem. Revista Mineira Educação Física. Viçosa, 2(1):43-47.
Moreira, Herivelto & FOX, Kenneth & SPARKES, Andrew C. (1996). A motivação e o compromisso dos professores de Educação física: um modelo interacionista. Synopsis,7. 1-12. Curitiba.
Newell K.M. (1986). Constraints os the development of coordination. In: Wade M.G. & Whiting H.T.A. (Eds). Motor development in children: Aspects of coordination and control 341-360. Boston: Martinus Nijhoff.
Pinto, José A. & GOMES, Leonardo R. R. (1993). Características específicas e fatores fisiológicos do treinamento do voleibol de alto nível. Revista Mineira. Educação Física. Viçosa, 1(1):49-54.
Pompeu, Fernando A .M.S. (1995). Considerações biológicas sobre o treinamento de crianças e adolescentes. Revista Mineira Educação Física., Viçosa, 3 (1): 43-64.
Romariz, Sandra B. & SILVA, Vernon F. (1998). Influência da capacidade física na aprendizagem motora dos fundamentos do voleibol. XXI Simpósio Internacional de Ciência do esporte. São Paulo.
Santos, Marco A. G. N. (1997). Voleibol - professor (técnico) X conhecimento. Sprint.91, 43-48.
Schimitd R. (1993). Aprendizagem motora e performance. São Paulo: Editora Movimento.
Suvorov,Y.P. & GRISHIM, O.N.. (1990). Voleibol iniciação 1. Rio de Janeiro: Sprint.(Tradução)
Tani Go, (1987). Educação física na pré escola e nas quatro primeiras séries do primeiro grau: uma abordagem desenvolvimentista I. Kinesis,3, 19-41.
__________ (1992). Contribuição da aprendizagem motora à educação física: uma análise crítica. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, 6 (2): 65-72.
Teixeira, Luis A.(1990 jan/jun). Estágios de aprendizagem motora e o processo de interação professor - aluno. Kinesis, 6(1): 23-42.
Xavier, T.P. (1986). Métodos de ensino em educação física. São Paulo: Manole.