Resumo

Este trabalho versa sobre o corpo como sujeito da percepção, indispensável na experiência de ser, destacando dois aspectos fundamentais para as discussões sobre práticas corporais contemporâneas: beleza e saúde. Parte se do pressuposto
que o treinamento personalizado encontra-se em ascensão na cultura corporal, atraindo novos profissionais, adeptos e práticas; criando assim um novo nicho de mercado visado pela mídia. Apesar da sua efervescência, este campo ainda é pouco
discutido entre as publicações nacionais, particularmente raras quando se trata de estabelecer diálogo com as ciências humanas. Considerando como relevantes os pontos citados, este estudo objetiva investigar qual a percepção de corpo belo e
saudável dos profissionais formados em Educação Física que atuam c omo Personal Trainers (PT). Tendo como pano de fundo o corpo próprio, a mídia e os dispositivos biopolíticos, esta pesquisa ambiciona suscitar discussões no intuito de preencher
uma lacuna do conhecimento que dificulta o entendimento dos processos sociais que envolvem o corpo e o PT no cenário atual. Esta pesquisa é qualitativa, e o método adotado foi o olhar fenomenológico. O corpus analítico é composto pelas narrativas de 25 sujeitos, que atuam como Personais na cidade de João Pessoa -PB. O instrumento utilizado foi a entrevista semi-estruturada, cujo roteiro é proveniente de uma pesquisa exploratória anterior, realizada através de observação participante e notas de campo. O treinamento personalizado foi estudado à luz dos conceitos de corpo vivido (Merleau-Ponty) e habitus (Bourdieu). A partir destes, os discursos foram analisados e contrapostos, resultando em categorias de análise. Observou-se na ida ao campo, que para incrementar os treinos imprimindo-lhes caráter de novidade- e principalmente o marketing pessoal, muitos profissionais utilizam o próprio corpo como uma espécie de laboratório de novas vivências e práticas. Como resultado, o PT é marcado pelo uso do seu corpo como principal ferramenta de trabalho, investimento e pesquisa; aumentando a necessidade de autovigilância e cuidado de si. Neste contexto, percebe-se que o corpo vivido representa a forma primeira de interação e expressão do Personal enquanto ser no
mundo, mas também é lugar de construção da atuação profissional e do habitus Personal Trainer, à medida que reinventa dia após dia a sua percepção através dos movimentos que executa. Saber é necessário, mas poder executar os treinos dá condições para exibição do corpo, que por sua vez atrai contratantes. No que tange à saúde, todas as narrativas apontam para a dificuldade de expressar verbalmente e/ou organizar ideias sobre o assunto. Predominaram as reproduções de discursos próximos aos normatizados e/ou quantificações de sentidos. No que diz respeito à estética, observou-se que os sujeitos apresentaram semelhante ou igual percepção, apontando para uma interface entre beleza e saúde. Em conclusão, espera-se que as Ciências Humanas e da Saúde se articulem na tentativa de formar e oferecer possibilidades para que os profissionais e alunos elaborem percepções de corpo belo e saudável com base na experiência subjetiva do corpo vivido e não na reprodução de discursos e normas objetivantes.